Rosane de Oliveira
As restrições à prescrição de exames sofisticados a pacientes do SUS, expostas em um cartaz na Santa Casa de Porto Alegre, são o retrato do impacto da crise das finanças na vida do cidadão. O governo atrasa os repasses para a saúde porque está impedido por decisão judicial de parcelar salários e engessado pela Constituição para cortar privilégios nos outros Poderes.
Paciente do SUS não tem energia para fazer barulho nas galerias da Assembleia nem caneta para assinar ordens. Se morrer por falta de diagnóstico preciso, quem além da família e dos amigos se importa? O Estado há muito deixou de servir ao cidadão: é uma máquina cara, que vive em função de si mesma.
Prefeituras tentam impedir atraso no dinheiro para a saúde
Esse Estado que não consegue atender a demandas básicas de saúde, educação e segurança ainda não se deu conta de que terá de fazer escolhas. Comporta-se como aquelas famílias falidas que não abrem mão dos cristais e da prataria no armário, mesmo quando falta comida na mesa.
Foi um dos integrantes do governo falar em repassar o zoológico para a iniciativa privada para os opositores quase iniciarem uma nova Revolução Farroupilha. A Fundação Zoobotânica é só um exemplo que virou emblema, mas o Estado empobrecido tem N outras estruturas que cedo ou tarde terão de ser revistas.
Na quarta-feira, a Secretaria da Saúde depositou R$ 70 milhões de um total de R$ 134 milhões devidos a hospitais filantrópicos, prefeituras e fornecedores da área da saúde.
Assembleia e Ministério Público vão emprestar R$ 32 milhões para ajudar Estado a pagar salários
A prefeitura de Porto Alegre ameaça restringir o atendimento a pacientes do Interior. Secretários de Saúde pediram a intercessão do Ministério Público, para obrigar o Estado a repassar o que deve para a saúde. O MP abriu um inquérito para investigar a situação. É uma forma de ganhar tempo, porque os promotores sabem que não adianta acionar o Estado na Justiça, mandando repassar recursos de que não dispõe.
Na hipótese de a Justiça mandar pagar em dia os hospitais e as prefeituras, quem será sacrificado? Este é o dilema do Rio Grande do Sul.