
Fora do poder, é fácil para o ex-presidente Lula sugerir que sua sucessora vá para as ruas, encoste a cabeça no ombro do povo e explique as dificuldades do país. Lula, melhor do que ninguém, sabe que Dilma Rousseff, com apenas 9% de aprovação na última pesquisa do Ibope, não está em condições de fazer esse encontro com as ruas sem enfrentar vaias e panelaço. O máximo que Dilma consegue é falar a segmentos restritos, cercada de um aparato de segurança que impeça a aproximação da maioria que considera seu governo ruim ou péssimo.
Lula deu o conselho discursando em território amigo, a 5ª Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em Guararema, região metropolitana de São Paulo. Em um local aberto, correria o risco de ter sido ele o alvo de vaias, já que sua popularidade também não é a mesma dos tempos de bonança.
A sugestão para que Dilma explique as dificuldades e quais são as perspectivas do país seria pertinente, não fosse por um detalhe além da rejeição: a incapacidade da presidente de se expressar com clareza. Em tempos de paz, Dilma já se atrapalha com as palavras. Pressionada, não consegue fazer um discurso coerente e produz caricaturas, como os comentários sobre a mandioca ou a comparação entre os delatores da Lava-Jato e os que entregavam os companheiros no tempo da ditadura.
Com o uniforme laranja de petroleiro, que tantas fotos positivas rendeu na era pré-escândalo de corrupção na Petrobras, Lula falou em um evento que tinha como lema "Defender a Petrobras é defender o Brasil". Disse que sente orgulho da empresa e que ela não é só corrupção. Como sempre, em se tratando de Lula, faltou o mea culpa.
Faltou reconhecer que os grandes desvios identificados até aqui ocorreram no governo dele. Que colocou pessoas erradas em cargos de comando. Que se arrepende (se é que se arrepende) de ter dado poder a quem não merecia.
Lula disse que Dilma e os ministros precisam colocar "o pé na rua" e falar com as pessoas que torcem para ela governar o país. A pergunta é: como conquistar uma população que não mostra disposição para ouvir o que a presidente tem a dizer?
Como Lula fez em 2005
Há 10 anos, no auge da crise provocada pelas denúncias do então deputado Roberto Jefferson (PTB) de que o governo pagava um "mensalão" aos aliados no Congresso, Lula fez o que hoje aconselha Dilma Rousseff a fazer: procurou os ombros do povo.
Na foto acima, Lula está com os trabalhadores da Refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas, parte de um roteiro que incluiu encontros com operários que trabalhavam na duplicação da BR-101, em Osório e Maquiné. O encontro com os petroleiros da Refap era o quarto com trabalhadores em uma semana.
A primeira diferença em relação a Dilma é que, naquela época, o capital político de Lula seguia praticamente intocado - tanto que, um ano depois, se reelegeu presidente. Mesmo no auge do mensalão, a popularidade dele se manteve em patamar confortável. A segunda é que a economia ia bem e não havia, como agora, o fantasma da inflação e do desemprego.