O atraso nos salários dos servidores do Poder Executivo, que nesta segunda-feira receberão apenas R$ 600, não é um problema apenas das famílias que dependem do Estado para pagar as contas. Estas são as primeiras vítimas do colapso das contas públicas, mas os efeitos serão sentidos por todos os gaúchos.
Rosane de Oliveira: clima festivo na Expointer
Sabendo que havia previsão de atraso, os sindicatos aprovaram uma greve de quatro dias, a partir desta segunda, e marcaram para quinta-feira a assembleia que decidirá pela continuação até que os salários sejam quitados. Na prática, isso vai significar escolas fechadas, maior insegurança nas ruas, aumento da tensão nos presídios e problemas em todas as áreas, mesmo naquelas em que os servidores decidirem não cruzar os braços.
Saiba como a greve de servidores deve afetar serviços no RS
Com que ânimo alguém vai trabalhar sabendo que só recebeu R$ 600 e que não terá como pagar as contas do mês? Quem pagará os juros do cartão de crédito e do cheque especial, a multa do condomínio, a faculdade do filho, a clínica do pai ou da mãe que sofre do mal de Alzheimer?
São poucos os funcionários públicos que têm poupança para sacar enquanto o salário não vem. Com mais de 80% ganhando menos do que o auxílio-moradia de um juiz ou de um promotor, a maioria dos servidores do Executivo está endividada. São R$ 123 milhões por mês só de empréstimos consignados, sem contar o negativo do cheque especial, o cartão de crédito e a prestação da casa própria.
Diferentemente de julho, quando metade recebeu em dia, desta vez ninguém escapou. A sensação de injustiça se multiplica entre os que ganham menos por constatar que a miséria é privilégio do Executivo. O princípio de que todos são iguais perante a lei não vale neste caso: para não comprar briga com os outros poderes, o governador José Ivo Sartori optou por sacrificar apenas a massa que está sob o guarda-chuva do Executivo.
Assim como a Constituição garante autonomia aos poderes, não há lei que autorize o atraso. Se não há dinheiro para todos - e não há -, o mínimo que Sartori deveria fazer era socializar o prejuízo.
Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensoria Pública estão pagando em dia não só os salários (direito de todos), mas os penduricalhos que elevam contracheques para além do teto de R$ 30,4 mil.
Sartori poderia ter ampliado o uso dos depósitos judiciais, mas optou por esticar a corda, temendo que a sensação de alívio enterrasse o projeto de aumento do ICMS. O preço da opção começará a ser conhecido nesta segunda-feira.