A reforma administrativa da presidente Dilma deveria ser o início de um grande enxugamento da máquina pública, mas tem tudo para não passar de uma tapeada. Começando pela marca do improviso, até a pressão de aliados para não perder os cargos, a montanha pode parir uma pulga. Se isso ocorrer, ficará ainda mais difícil para a articulação política negociar a aprovação do pacote de cortes no orçamento de 2016. Tudo o que a oposição quer é munição para o seguinte discurso: se o governo não corta na carne, como exigir sacrifícios da população?
Ao apresentar o pacote de medidas, o próprio ministro Nelson Barbosa (Planejamento) reconheceu que a economia com a máquina ficará em torno de R$ 200 milhões. É muito pouco diante do rombo de R$ 30,5 bilhões. Quem conhece os ministérios, sabe que existem sobreposições de secretarias e direções, criadas ao longo dos anos para adaptar as indicações dos partidos. Mas o fim do desperdício não é o que está no foco neste momento. A eliminação de 10 ministérios servirá como ato simbólico. A prioridade virou a reforma ministerial, a dança de cadeiras para ajustar as relações com o Congresso.
Esse foi o conselho do ex-presidente Lula na reunião com Dilma. Que ela aproveite a atual mudança para contemplar os fiéis, tirando cargos de quem não vota com o governo. Não é incomum encontrar deputados - inclusive gaúchos - com discurso feroz contra a administração petista, mas que já bateram ponto na fila de pedidos de cargos no quarto andar do Palácio. A lógica de Lula é a da articulação clássica: voto em troca de vaga.
Todas as atenções do governo estão voltadas para a Câmara e o Senado. A prioridade é a sessão da próxima terça-feira, quando deverão ser votados os vetos presidenciais. Logo depois, entram as negociações sobre o pacote de cortes e, em paralelo, o monitoramento do risco de impeachment. Para os partidos que comandam esse espetáculo, acabar com cargos é tirar doce da boca da criança.