
Impressionante como o simples posicionamento de uma dezena de cadeiras pode nos dizer muito sobre uma cidade. Em 2013, quando fui a Paris, uma curiosa cena me chamou a atenção nos cafés próximos à estação Edgar Quinet. Assentos de vime estavam milimetricamente perfilados lado a lado. A visão se repetiu por muitas esquinas e ruas da cidade luz. Ao contrário do costume brasileiro, notei que era difícil encontrar pessoas sentadas umas de frente para as outras. Até mesmo os casais apaixonados. Todos sentam-se em linha, virados para a rua, enquanto degustam croissants e macarons.
No filme argentino Medianeras, o interlocutor critica o crescimento urbano desenfreado de Buenos Aires, indagando: "O que esperar de uma cidade que vira as costas para o seu rio?". Os parisienses nos mostram que não dar as costas para suas ruas é mais do que um rotineiro posicionamento de encostos. É uma declaração de amor à cidade, uma contemplação do espaço público, um culto à rua.
Culto esse que vira lei. Prova disso é a legislação que impede a construção de prédios com mais de 37 metros de altura na cidade, o equivalente a 12 andares, prevista no chamado Plano Local de Urbanismo, de 1975. É uma cidade pensada e planejada para as pessoas. Hipermercados se localizam longe do centro da capital francesa. Característica urbana que fortalece as feiras, pâtisseries e boulangeries locais. Sem falar nos mais de 700 quilômetros de ciclovias, que encorajam seus habitantes a se deslocarem de maneira mais sustentável. O francês gosta da rua, zela por ela, vive nela.
Porto Alegre parece que vai no caminho inverso. Obras inacabadas, calçadas quebradas, prédios históricos em decomposição, um Guaíba esquecido. Elementos de uma fórmula falha que nos afasta da rua. Uma cidade cinza, que só se colore e chama a atenção de seus habitantes quando os ipês-roxos florescem, próximo à primavera. É preciso mudar. Porto Alegre merece e precisa ser mais valorizada. Juntos, precisamos perceber os caminhos que estamos tomando. Nesse contexto, vale a pena aprender algo com os franceses.
Basta virar nossas cadeiras.
Nova York para pessoas
Nova York, à primeira vista, pode parecer uma cidade impessoal, tumultuada, caótica. É neste lugar em que mais de 8 milhões de habitantes se aglomeram em busca de sonhos e oportunidades que vi ótimos exemplos de urbanismo. Projetos que pensam a cidade para as pessoas.
High Line Park
O que fazer com uma feroviária abandonada no meio da cidade? Nova York respondeu esta pergunta de forma muito ecológica e inteligente. O High Line é um parque que foi feito onde funcionava uma antiga linha férrea elevada da década de 1930 e que foi desativada em meados de 1980. O parque linear tem 2,5 quilômetros, foi construído em 2009 e corta três bairros da cidade. Jardins, bancos para leitura, espreguiçadeira em trilhos, além do privilégio de ver Nova York de cima fizeram do local um ponto turístico e popular da cidade.
Brooklyn Bridge Park
Outro parque fantástico da Big Apple fica embaixo da ponte do Brooklyn. O espaço é um dos melhores locais para apreciar a silhueta de Nova York. Além disso, a área de 34 hectares é dividida em píeres que têm jardins, trilhas, quadras esportivas, mirantes e playgrounds. Tudo planejado para que a população aproveite o espaço público e valorize o lado oposto de Manhattan.
* O colunista Paulo SantAna, titular deste espaço, encontra-se em tratamento de saúde.