
No segundo dia de paralisação no Rio Grande do Sul em resposta ao novo parcelamento de salários do funcionalismo estadual, a segurança pública é o setor mais afetado. Pela manhã, três dos seis batalhões da Brigada Militar em Porto Alegre foram bloqueados por PMs grevistas e mulheres de policiais. Além disso, a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), desde segunda-feira, começou a restringir a transferência de detentos para fóruns e suspender audiências judiciais e julgamentos.
No começo da manhã, com a passagem de um micro-ônibus bloqueada por brigadianos mobilizados, cerca de 30 alunos da Academia de Polícia Militar tiveram de pular uma cerca (vídeo abaixo) e caminhar por duas horas para poder fazer a segurança do centro de Porto Alegre. Eles percorreram quase sete quilômetros, cumprindo ordens do comandante da tropa. Sem café da manhã, os alunos - que se formam em novembro - substituíram os policiais do 9º BPM.
Antes de chegar à sede da 1ª Cia, os futuros PMs falaram em "vergonha". Um grupo deles, ao ser questionado pela reportagem se queria estar trabalhando, respondeu "claro que não". De acordo com o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas Moreira, apesar dos piquetes, os PMs asseguraram o atendimento mínimo à população.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, Moreira afirmou que 90% dos policiais militares assumiram seus postos. O presidente da Abamf (entidade que representa os servidores de nível médio da Brigada Militar), Leonel Lucas, no entanto, falou que cerca de 80% da BM na Capital está paralisada nesta terça. No Estado, o efetivo que não saiu dos batalhões na manhã chegou a 90%, segundo Lucas.
Policiais no mato para a Expointer
Em Canoas, um grupo de cerca de 20 mulheres, esposas de PMs, bloqueou o portão principal do 15º BPM. Os 30 homens da Companhia de Operações Especiais (COE) seriam deslocados para fazer o policiamento na Expointer, em Esteio. Por volta das 11h, eles foram orientados a deixar o BPM, mas acabaram barrados pelas manifestantes.
Os policiais pularam um muro ao lado do BPM e, ao chegarem ao portão, formou-se um cordão humano em torno deles. Em um círculo, de mãos dadas, as mulheres impediam que eles se deslocassem, em protesto contra o parcelamento dos salários.
- É a indignação das esposas por conta do parcelamento dos salários. Com R$ 600, o que se faz hoje? Não paga nem o aluguel no nosso apartamento - afirmou a assistente de departamento pessoal Uelen de Moraes, 28 anos, mulher de um soldado da BM.
Veja fotos do 2º dia de mobilização:
Dentro do círculo, PMs choraram. As esposas alegam que os maridos não queriam sair para o policiamento, enquanto o comandante do 15º BPM, coronel Oto Eduardo Rosa Amorim, afirmou que foi realizada uma reunião e que os homens ficaram livres para sair ao serviço ou não - mas todos teriam optado por trabalhar. Com o portão bloqueado, o grupo saiu em meio a um mato pelos fundos do batalhão. Dois cavalos iam em frente, abrindo espaço para que eles transitassem. Passaram pelo meio de um lodo até chegarem à base aérea, onde um ônibus, deslocado de outra unidade, os transportou até a feira em Esteio.
As manifestações contra o atraso de salários levam também agentes penitenciários a paralisar as atividades de transporte de presos para fóruns, restringindo transferências entre cadeias e a suspendendo audiências judicias e julgamentos. Na segunda-feira, no primeiro dia de mobilização, 253 movimentações foram canceladas, conforme levantamento da Susepe nas cerca de 100 casas prisionais no Estado. O trabalho nas cadeias, de acordo com o órgão, respeita o limite mínimo de 30% de servidores.
Veja como foi a cobertura ao vivo:
Veja como a greve deve afetar os serviços públicos nesta terça:
Educação: as escolas estaduais permanecem fechadas. De acordo com o Cpers, mais de 90% dos professores aderiram à paralisação nesta segunda. A orientação é de que os pais não levem os filhos para a aula. A Secretaria de Educação do Estado, no entanto, recomenda que pais liguem para as escolas para saber se os filhos terão ou não aula.
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Segurança: a Brigada Militar e o Corpo de Bombeiros iniciaram o aquartelamento em parte do Estado. Os policiais militares são orientados a atender somente a ocorrências urgentes e emergências e retornar aos batalhões. A Polícia Civil continua atendendo somente a crimes graves, como homicídios e acidentes com morte, e interrompe as investigações. Os agentes penitenciários estudam abandonar a segurança dos presídios e estão esperando o Comando da BM enviar reforço, já que a Brigada, responsável pelo trabalho em caso de paralisação dos funcionários da Susepe, também deve parar.
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Transporte público: não há paralisação e nem previsão de interrupção do serviço na Capital. Segundo representantes dos rodoviários, as linhas serão suspensas somente em caso real de ameaça aos trabalhadores.
Saúde: instituições estaduais de saúde seguem aderindo ao movimento, mantendo somente os serviços essenciais em locais como Hospital Sanatório Partenon, Hospital Psiquiátrico São Pedro, Hospital Colônia Itapuã, Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps) e Ambulatório de Dermatologia Sanitária. O mesmo ocorre nas coordenadorias de saúde. Já a Escola de Saúde Pública deve paralisar completamente.
Bancos: até o momento, não há confirmação de paralisação. O SindiBancários entrou com uma ação na Justiça pedindo para que as agências não sejam abertas a partir desta terça, enquanto durar o aquartelamento da BM.
* Zero Hora