Mesmo nessa briga de gato e rato que caracteriza o duelo diário entre policiais e criminosos no Brasil, certos limites não podem ser ultrapassados. Policial sabe, por exemplo, que é quebra de conduta - além de perigoso - apatifar com a família do bandido. Esculachar, para usar uma gíria do submundo. Uma coisa é o crime que o sujeito cometeu, outra é colocar no meio gente inocente. Essa história de apertar a família do delinquente para obter informações pode acabar mal, ainda mais em tempos de patrões do tráfico e do roubo comandando o crime de dentro dos presídios.
Da mesma forma, torturar um policial até a morte - como ocorreu no Rio esta semana - faz mal para a saúde dos bandidos e eles sabem disso. São regras de uma guerra particular, não escritas, mas bem compreendidas.
Os pichadores que pintaram o nome do chefe do tráfico no Fórum da Restinga romperam um limite. Foi por isso que policiais do Denarc foram lá e removeram a pichação. Ela é uma afronta ao sistema judicial, o mesmo que inclusive permite, por vezes, a libertação dos acusados de tráfico. É uma ofensa à ordem estabelecida, formal. Por mais que criminosos tentem fazer suas próprias regras, a sociedade contrária aos delitos ainda é maioria. Como maioria, não tolera e nem pode aceitar louvação a patrões do crime, por mais "bonzinho" que ele seja para a comunidade, seja Xandi ou Alemão. É o conceito das janelas quebradas: quanto menos se importa com pequenos delitos, mais a sociedade verá crescerem os grandes crimes. Sim, é preciso se importar quando um bandido vira ídolo. E não aceitar.
*Zero Hora