Jeniffer Gularte
A maioria faz cara feia só de ouvir falar. Preocupados com a nova e desconhecida concorrência nas ruas desde quinta-feira, os taxistas de Porto Alegre começam a se perguntar se o Uber - aplicativo que conecta passageiros a motoristas para transporte individual privado - vai apenas aumentar a disputa pelo passageiro ou se poderá, também, transformar-se em uma nova oportunidade de trabalho.
Uber cadastra primeiros motoristas em Porto Alegre
Há 16 anos na função e com ponto na Avenida Borges de Medeiros, Daian Cordazzo, 34 anos, comprou um Corolla preto há seis meses prevendo que o serviço - que já chegou São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte (MG) e Maceió (AL) - mais cedo ou mais tarde aterrissaria em Porto Alegre.
VÍDEO: três perguntas para o diretor da Uber no Brasil
Não deu outra. Com boa parte dos colegas reclamando da baixa demanda, ele enxerga o Uber como uma chance de escapar da maré baixa. Mas garante que não vai se afobar: planeja esperar cerca de um ano e meio para ver como a novidade vai ser recebida por aqui.
- Se der certo, só vou tirar o adesivo vermelho, porque o meu carro já é preto e no padrão que eles exigem - argumenta, orgulhoso de manter o veículo rigorosamente limpo, ter bancos de couro e oferecer chicletes e bombons para os passageiros.
Marcos Piangers: "Fiz a primeira corrida do Uber em Porto Alegre"
Queda de 30%
Ao comparar o número de corridas que fazia na mesma época do ano passado, Delmar Lopes Fernandes, 47 anos, percebe uma queda de 30% de procura pelo táxi:
- A gente já ouve falar de colegas que pensam em mudar, mas ninguém sabe no que isso vai dar porque o investimento é alto - conta ele, que trabalha próximo ao viaduto da Borges.
Por enquanto, a alternativa mais viável, segundo ele, é continuar atendendo ao clientes de forma cordial e honesta.
Com as corridas em queda nesta mesma margem, Leandro Dantas, 35 anos, acredita que a dobradinha educação com o cliente mais carro limpo será a forma de não deixar a demanda despencar ainda mais.
Jaques Schwest foi o único taxista entrevistado pela reportagem que acredita que o Uber não vai mexer com o setor, tanto pela falta de identificação dos carros quanto pela qualificação dos motoristas.
- O cliente vai reclamar para quem do Uber? - questiona ele, que tem ponto na Rua José do Patrocínio.
Leia mais notícias sobre taxistas
Euclides: Uber será um termômetro
Com 22 anos de experiência no volante e a frente do táxi na Avenida Borges de Medeiros, Euclides da Silva Filho, 63 anos, também reconhece que serviço da Capital precisa melhorar. Ele não só aposta que o Uber dará certo como acredita que a chegada do aplicativo será como um termômetro da qualidade do serviço dos táxis.
- Se Uber crescer aqui, será o reflexo da nossa própria condição de não poder prestar um serviço melhor. Se fosse tudo ótimo, não teríamos porque temer o Uber - avalia.
O empregado acredita que o maior entrave para migrar para o novo sistema seria a compra de um carro próprio, coisa que Euclides nunca teve. Pior ainda, segundo ele, é fazer isso sem "ter certeza da lucratividade".
Fabiano não descarta nenhuma mudança
Receoso, Fabiano Batista Salvador, 35 anos, explica que não pode descartar nenhuma mudança, mas acredita que o sucesso do serviço ainda é incerto para prever se vale ou não a pena deixar o táxi.
- Como o carro é só teu, tu tens que fazer um investimento muito grande e ainda tem o gasto com manutenção, combustível... - pondera ele, outro colega do ponto da Borges.
Porém, mesmo apreensivo, o empregado reconhece que esta seria uma oportunidade de ter renda própria, fazer seus próprios horários e ser patrão de si mesmo.
- Tomara que a chegada do Uber gere uma mudança para que impulsione a qualificação dos táxis e gere novas oportunidades para nós.
EPTC busca alternativa para regulamentação
Enquanto o Uber não for regulamentado em Porto Alegre, a EPTC tratará o serviço como um transporte clandestino. O presidente do órgão municipal, Vanderlei Capellari, já admite que estão sendo analisadas alternativas de regulamentação e avaliados modelos como o de São Paulo, que abriu cinco mil vagas para os "táxis especiais"
- Mas não temos pressa, vamos trabalhar nisso. Não aceitamos a forma como estraram na cidade, é um negócio de exploração econômica. Se for regulamentado terá controle público, fiscalização, os motoristas serão cadastrados e obedecerão requisitos básicos.