
Morto em suposto tiroteio com a Brigada Militar por volta das 19h da última terça-feira no bairro Cascata, em Porto Alegre, o jovem Cristian Luciano Gustavo da Rosa, 18 anos, vinha em ascensão no tráfico de drogas. Gerente de uma boca no bairro da zona sul da Capital e aliado da quadrilha de Leonardo Ramos Souza, o Peixe, que comanda uma galeria da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), ele falou a agentes da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase) - onde foi um dos líderes do motim de 2013 - que tinha escolhido o caminho do crime e que isso não tinha mais volta.
A morte dele é tida como uma das principais hipóteses para a série de ataques a ônibus ocorrida horas depois em diferentes bairros da Zona Sul. As autoridades investigam ainda a ligação dos atentados, que incendiaram cinco ônibus e um lotação, com uma rebelião na PEJ, controlada após três horas de confronto entre apenados e policiais, ocorrida também na terça-feira.
- Dentro da Fase ele fez nome porque aparecia. Foi uma voz de reivindicação dos internos contra a superlotação e estruturas deterioradas e ajudou a reprimir uma facção menor. Ele negociou conosco à época e também com a Brigada Militar, e em nenhum momento tentou fugir. Ele não escondia a opção que tinha feito (de seguir na criminalidade) e dizia que, se chegasse aos 25 anos, era porque estava preso - relata um funcionário da Fase que trabalhou diretamente com o jovem.
Cristian pertencia à quadrilha dos V7 - uma referência à parada 27 da Vila Cruzeiro - e era aliado do grupo de Peixe e outras quadrilhas que tomaram o controle do tráfico na Vila Maria da Conceição depois da prisão de Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão, em 2013. De acordo com informações obtidas com o funcionário da Fase, que trabalha com adolescentes desta região de Porto Alegre e faz o mapeamento das facções, Cristian foi promovido a gerente do tráfico na Cascata e tinha a confiança de Peixe.
- Ele deixou de ser avião para comandar. Quando conversávamos fora de tumulto, era um guri fácil de lidar. Porém, já tinha feito a opção pelo crime. Ele sabia que teria um tempo na rua e iria morrer ou ser preso. Combinava com amigos que iria para tal galeria no Presídio Central. Era um jovem muito frio e não fazia vínculo de afeto com quase ninguém. Saiu para a rua dizendo que seria matador da boca e que não ia "dar guela para os contras" - afirma o funcionário da Fase.
Conforme os registros policiais, Cristian colecionava um longo histórico de roubos desde os seus 14 anos. Ele respondeu como menor infrator em 10 casos de assaltos dos mais variados. Em maio de 2013, ainda com 15 anos, esteve entre um grupo de internos amotinados na Fase. A exigência dos líderes daquele movimento era que fossem transferidos para o Presídio Central.
Desde o ano passado, a região da Cascata vive uma guerra entre três grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas local. Os V7 foram um dos braços armados para a tomada da Conceição e da galeria sob domínio de Paulão no Presídio Central. Diferente de outras facções, eles não formam uma quadrilha coesa, mas uma aliança de diferentes quadrilhas, cada uma com seu território. O traficante Peixe atuava na Cascata e levou alguns jovens da Cruzeiro para trabalhar na boca dele.
Além da Cruzeiro, os V7 estão presentes diretamente em partes da Vila Nova e são aliados dos Primeira e Alemão - grupos da Restinga - e de desafetos de Paulão. A principal característica deles é a violência e a forma arrojada de atuar, o que foi determinante para derrubar o império de Paulão na Conceição.
Veja fotos dos ataques: