O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convidou a oposição nesta sexta-feira a conversar sobre qualquer tema para buscar a paz no país, ao fazer sua prestação de contas anual de sua administração, pela primeira vez perante um Parlamento de maioria opositora.
"Estamos prontos e dispostos a conversar (sobre) este e qualquer outro tema que seja suscetível e necessário de conversar pela paz que a Venezuela nos exige", disse o presidente, após fazer alusão à anistia proposta pelos opositores aos políticos presos.
"Proponho o estabelecimento de uma Comissão Nacional de Justiça, Verdade e Paz Paritária, que seja presidida por um venezuelano, ou venezuelana, de confiança pública e que estabeleça as bases legais e jurídicas para um processo de paz, e que não se imponha a visão do perdão dos assassinos aos próprios", defendeu.
Maduro se referia ao projeto da oposição, apresentado na segunda-feira passada, para anistiar 76 presos políticos, entre eles o dirigente Leopoldo López, e milhares de "perseguidos" e exilados por sua oposição ao chavismo.
O presidente reafirmou sua rejeição à iniciativa, assinalando que isto cravaria "um punhal na paz" e "não curaria qualquer ferida criada pelo erro político de tentar forçar a história pela violência".
Através do bloco legislativo chavista e do vice-presidente, Aristóbulo Istúriz, "estamos prontos e dispostos a conversar sobre este e qualquer outro tema que seja suscetível e necessário".
O líder chavista citou como exemplos o processo liderado pelo sul-africano Nelson Mandela para acabar com a segregação racial e a base jurídica do diálogo de paz entre o governo colombiano e a guerrilha das Farc.
Na África do Sul, com um estatuto jurídico, "os que reconheceram seus crimes completos foram perdoados, houve justiça, indenização das vítimas e muitos tiveram de cumprir" penas alternativas.
Nesse sentido, Maduro manifestou que o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas - do qual a Venezuela paz parte - "contribuiu com ideias bem valiosas".
A oposição venezuelana aceitou a oferta de diálogo, mas exigiu resultados e medidas concretas.
"Agora, se você propõe diálogo, estou completamente de acordo, mas que seja um diálogo com resultados, com medidas concretas e que, quando oferecermos a paz, não seja a 'pax romana', a paz dos túmulos", disse o líder do Parlamento, Henry Ramos Allup, a Maduro.
"Se você busca o diálogo, aqui vai encontrar o diálogo (...). Podemos conseguir pontos de coincidência para sair desta crise que é terrível (...), mas não podemos prosseguir até a libertação dos presos políticos, que existem sim, presidente!" - acrescentou Ramos Allup.
Há algumas semanas, Maduro garantiu que vetará o projeto de anistia proposto pela oposição e recordou que os protestos que buscavam sua renúncia deixaram 43 mortos entre fevereiro e maio de 2014.
Acusado de incitar a população à violência nestas manifestações, López, líder da ala radical da oposição, foi condenado em setembro passado a quase 14 anos de prisão.
Para Maduro, a oposição insistiu no "erro de tentar impor cenários golpistas com o apoio de fatores imperialistas dos Estados Unidos" e dos meios de comunicação internacionais.
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