
Depois da prisão de um taxista de 24 anos, suspeito de iniciar uma briga que resultou em perseguição e morte do vendedor ambulante Geovani Pereira de Melo, 35 anos, na madrugada de sábado, em Porto Alegre, a polícia procura outro taxista, de 28 anos, apontado como o homem que executou a vítima.
Com prisão preventiva decretada pela Justiça, o suspeito de disparar duas vezes contra Melo – na cabeça e na perna esquerda – está foragido. A polícia evita divulgar nomes sob o argumento de que atrapalharia a investigação. O motorista suspeito da morte não tem antecedentes criminais e nunca foi preso. O colega dele, considerado o pivô da desavença, preso preventivamente no domingo, tem contra si registros policiais por ameaça e agressão verbal e responde a um processo criminal por violência doméstica que tramita na Justiça da Capital.
A 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (6ª DHPP) também tenta localizar outros dois taxistas que participaram da perseguição à vítima. De um deles, os policiais sabem apenas o nome. Do outro, o apelido. Os modelos dos táxis que eles dirigiam também são mantidos em sigilo. Um Prisma e um Classic, dirigidos, respectivamente, pelo suspeito de iniciar a briga e o de matar a vítima, foram recolhidos pela polícia. Os dois veículos estão parcialmente amassados nas laterais, resultado de batidas na Pajero de Melo. O Classic tem marcas de tinta escura da cor da caminhonete da vítima.

O crime ocorreu por volta das 4h30min de sábado. O ambulante deixava uma casa noturna na Rua Marechal Floriano Peixoto, no centro da Capital, acompanhado de uma adolescente de 14 anos. Conforme relato da jovem, Melo dirigia pela via em baixa velocidade, o que teria incomodado o taxista do Prisma que vinha logo atrás, levando duas passageiras do bairro Praia de Belas para o Centro. Depois de buzinar várias vezes, o táxi emparelhou com a Pajero, e os dois condutores trocaram insultos. Sentindo-se ameaçado, o taxista teria pedido socorro para colegas via rádio. Em seguida, outros três táxis surgiram no local.
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Começou uma perseguição pela Avenida Salgado Filho, inclusive, pela contramão, na Rua Andrades Neves, que se encerrou no Morro Santa Tereza. Durante o trajeto de sete quilômetros, os carros teriam se tocado várias vezes. Ao chegar na Rua Ildefonso Pinto – rua sem saída –, o ambulante reduziu a velocidade para entrar em um beco em declive, perto de onde morava, com espaço para passagem de um carro de cada vez. Foi aí que taxistas aproveitaram para agredir o ambulante, ainda dentro da caminhonete.
De acordo com relato da adolescente, um dos taxistas puxou um revólver da cintura e atirou no ambulante. Melo ainda dirigiu por cerca de 10 metros, mas perdeu o controle da caminhonete, batendo contra paredes e parou ao colidir em uma cerca de arame com arbustos. O ambulante morreu logo em seguida, e os taxistas fugiram.
O taxista preso, que dirigia o Prisma, negou que tivesse perseguido o ambulante. Ele disse que, após pedir ajuda a colegas, largou as duas passageiras no Centro e ficou pela região. A polícia não sabe a identidade das mulheres.
Câmeras e aplicativo ajudam a identificar suspeitos
Os táxis e os motoristas envolvidos na caçada ao ambulante Geovani Pereira de Melo, 35 anos, foram identificados por meio de câmeras de vigilância de rua sob controle da prefeitura da Capital. Além disso, o táxi do suspeito de executar o ambulante é dotado de um aplicativo de chamadas de corridas que mostra os deslocamento do veículo.
O sistema indicou que veículo estava às 4h25min31s de sábado na Avenida Salgado Filho e às 4h32min36s na entrada do Morro Santa Tereza. Nesta segunda-feira, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) pesquisava por meio do sistema GPS detalhes da rota dos quatro táxis envolvidos no caso.

Os dois motoristas já identificados estão impedidos preventivamente de dirigir táxi pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). A empresa, contudo, também não divulga informações sobre eles. Além do inquérito aberto pela Polícia Civil, a EPTC instaurou um processo administrativo. Dependendo das conclusões policiais, os dois motoristas podem ser proibidos de voltar a conduzir táxi.
Há, também, a possibilidade de o permissionário (dono do táxi) ter a licença cancelada em definitivo, pois, teria permitido que um motorista auxiliar dirigisse armado (o que é proibido por lei) e cometesse um crime. O diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, lamentou o episódio e disse que estão sendo aprimorados mecanismos de concessão de licenças para dirigir taxistas.
Desde o final do ano passado, a EPTC passou a ter acesso ao sistema Consultas Integradas, da Secretaria da Segurança Pública. Antes de emitir a licença, é pesquisado se o condutor tem antecedentes policiais ou processo judiciais. Se comprovada a autoria de crimes, a permissão não é concedida (para novos condutores) ou cancelada (para quem solicita renovação).