
O derretimento do valor das ações da Petrobras continuou nesta segunda-feira com a empresa atingindo mais uma marca negativa. Os papéis preferenciais da estatal, os mais negociados, caíram 7,16% e fecharam em R$ 4,80. A cotação abaixo de R$ 5 não acontecia desde 2003. No ano, a queda chega a 28,36%.
As causas da derrocada da Petrobras incluem a queda livre dos preços do petróleo no mercado internacional, o alto endividamento e a paralisação derivada da Lava-Jato. Mesmo as ações parecendo baratas, especialistas no mercado financeiro não aconselham comprar papéis da Petrobras. Isso porque ainda haveria espaço para as cotações continuarem caindo.
– Na nossa visão, não é hora de comprar. A empresa tem problema de caixa e está muito endividada. E muito disso é em dólar – diz o analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller, lembrando que, de acordo com o último dado disponível, de setembro do ano passado, o endividamento chegava a R$ 506 bilhões.
Para quem tem papéis da companhia e está no prejuízo, avalia Müller, o melhor seria vender e tentar recuperar o capital investido em "empresas melhores".
O professor de finanças Marcos Melo, do Ibmec, tem uma visão um pouco diferente. Mesmo admitindo que há possibilidade de o preço das ações da estatal continuar caindo, a compra poderia ser boa opção para quem estiver disposto a esperar um período mais longo, de até cinco anos.
– Em algum momento, vai haver retomada da economia, e os preços do petróleo vão voltar a subir. Apesar destas investigações relacionadas à corrupção, a Petrobras tem uma operação sólida e é competitiva – diz Melo, que, entretanto, ressalta ser arriscado contar com qualquer recuperação da empresa no curto prazo.
Em meio à crise na Petrobras que se alastrou para seus fornecedores, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse ontem que o governo estuda novas medidas regulatórias para estimular e reduzir os custos da cadeia de petróleo porque o setor precisará conviver com um período de baixos preços no mercado internacional.
A desvalorização da empresa também traz prejuízos aos trabalhadores que colocaram dinheiro do FGTS em fundos ligados à Petrobras. Segundo a ONG Instituto Fundo Devido ao Trabalhador, até o final do ano passado, a aplicação ainda tinha rendimento superior ao da conta normal do FGTS, mas a situação se inverteu no início do ano (ver quadro). Mesmo assim, o presidente da ONG, Mario Avelino, não recomenda se desfazer da aplicação.
Reflexos da queda do preço
Petróleo ladeira abaixo
Além dos problemas internos da estatal, a grande queda do preço do petróleo influencia o movimento dos papéis da Petrobras. O barril abaixo de US$ 30, após ser negociado acima de US$ 100 até meados de 2014, tem como uma das causas o desaquecimento da economia global. Outro fator que contribui para a redução dos preços é o interesse da Arábia Saudita. O país, que tem um custo de produção baixo, está aumentando a oferta para derrubar as cotações e, assim, inviabilizar o óleo de xisto produzido nos Estados Unidos. O fim de sanções ao Irã, que poderá crescer a sua produção, também passou a pressionar a commodity.
Perdas com o FGTS
Em agosto de 2000, o governo deu aos trabalhadores a possibilidade de aplicarem até 50% do seus FGTS em fundos vinculados às ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras. Cálculos da ONG Instituto Fundo Devido ao Trabalhador mostram que, pela primeira vez, o rendimento passou a ser menor do que o do FGTS normal. Enquanto o FGTS, até o dia 10 de janeiro deste ano, se valorizou 103,71% no período, os fundos que têm apenas ações da estatal tiveram rendimento de 50,9%. Em maio de 2008, no momento de maior valorização da Petrobras, a aplicação chegou a ter um rendimento de 1.346%.
O que fazer com o dinheiro aplicado?
O presidente da ONG, Mario Avelino, diz não recomendar a venda das ações por avaliar que a tendência de longo prazo é de recuperação dos preços. Ele lembra que, quando o trabalhador desiste da aplicação atrelada ao papel da Petrobras, o dinheiro volta para a conta normal do FGTS e só pode ser sacado nas condições previstas, como demissão sem justa causa, morte, aposentadoria, compra de imóveis, entre outras situações. Avelino ressalta que, ao longo do tempo, também foi permitido aos fundos diversificar aplicações em outras ações. Com isso, muitos teriam uma performance melhor em relação ao desempenho daqueles que têm apenas papéis da Petrobras. O FGTS normal, lembra Avelino, rende apenas 3% ao ano, mais a variação da TR. Ano passado, o ganho foi de somente 4,84%, menos da metade da inflação. Assim, a orientação da ONG é vender as ações apenas se for possível sacar o FGTS.