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Depoimentos dados ao Ministério Público de São Paulo por profissionais contratados para executar a reforma de um sítio frequentado pelo ex-presidente Lula e sua família, em Atibaia, interior do Estado, apontam que o pecuarista José Carlos Marques Bumlai e as construtoras OAS e Odebrecht foram os responsáveis pelo pagamento dos reparos e dos móveis da propriedade.
Bumlai é dono da Usina São Fernando, que, segundo indicam os depoimentos a que o Jornal Nacional teve acesso, teria bancado parte da reforma do sítio. Bumlai foi indiciado na Operação Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta em um contrato de navio-sonda da Petrobras e está preso no Complexo Médico-Penal do Paraná.
Adriano Fernandes dos Anjos, um dos profissionais contratados que prestou depoimento ao MP-SP, contou aos promotores que prestava serviço para a usina de Bumlai e que a usina o contratou para fazer uma estrutura metálica na casa do sítio em Atibaia.
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Dos Anjos afirmou que ficou na cidade de 30 a 40 dias e que recebeu cerca de R$ 40 mil de mão de obra pelo serviço. O pagamento foi feito pela Usina São Fernando por meio de depósito bancário.
Em depoimento, dos Anjos também afirmou que se reportava ao engenheiro Rômulo Dinalli, que seria o encarregado da usina para o serviço no sítio. O engenheiro, que negou o envolvimento na obra.
O outro depoimento foi dado pelo arquiteto Igenes dos Santos Irigaray, que trabalhou na obra e confirma que recebia ordens de Dinalli. Ele afirmou que não teve contato com o proprietário do sítio e que não sabia quem frequentava o imóvel.
Os procuradores suspeitam que o ex-presidente Lula seja o dono do sítio. No papel, os donos são Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios de Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente. A escritura aponta que eles compraram o sítio de mais de 150 mil metros quadrados por R$ 1,5 milhão.
O nome de Bittar aparece na nota da compra de móveis planejados para o sítio em uma loja de São Paulo. Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, um funcionário da loja disse que a OAS pagou a conta de R$ 130 mil, mas que a construtora não queria aparecer no negócio.
O advogado de Jonas Suassuna afirma que ele apenas vai se manifestar perante a Justiça. Fernando Bittar não foi localizado. A OAS e a Odebrecht não se pronunciaram.
A defesa de Bumlai nega que ele tenha assumido a reforma ou indicado arquiteto e engenheiro. Segundo a defesa, Bumlai apenas indicou uma construtora para a reforma, que não foi aceita e foi substituída.
Já o Instituto Lula afirma, em nota, que o ex-presidente Lula nunca escondeu que frequenta em dias de descanso o sítio Santa Bárbara, que pertence a amigos dele e de sua família. O instituto afirma que não há nada ilegal nestes fatos, que não servem para vincular o ex-presidente a qualquer espécie de suspeita ou investigação.