Leandro S. Junges
A guerra entre facções criminosas na zona Norte de Joinville levou o medo para dentro de uma escola no segundo dia de aula do ano. Uma garota, que pode ser uma das principais testemunhas para elucidar o assassinato do adolescente Israel Melo Júnior, de 16 anos, decapitado há 11 dias, está jurada de morte.
No final da manhã desta quinta-feira, uma operação envolvendo agentes da Guarda Municipal e da Polícia Militar foi montada para que a menina e a mãe pudessem sair em segurança e ir para casa.
Leia mais notícias sobre Joinville e região
A direção da escola, que tem mais de 400 alunos em cada turno, soube do envolvimento da aluna com Israel e a ameaça do grupo criminoso logo no primeiro dia de aula. Segundo a diretora, a menina não tem maturidade para entender o tamanho do problema e acabou piorando a situação, postando informações e até provocações em seu perfil no Facebook.
A mãe dela, que também usou a rede social comentando a morte do garoto, pediu ajuda para a direção da escola. Ela teme que integrantes do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) a persigam.
Sem saber exatamente como agir, a diretora pediu socorro para a Guarda Municipal e a Secretaria Municipal de Educação. Foi orientada a proteger a família dentro da escola, a evitar o pânico entre os outros alunos e pais.
- Eu vou fazer de tudo para que nada de ruim aconteça dentro da escola. Tenho essa responsabilidade. Mas não posso me responsabilizar pelo que ocorrer do lado de fora dos portões. Essa gente não tem limites - disse a diretora, diante da menina.
Outros pais que buscavam os filhos na escola ficaram assustados com a presença das equipes de segurança e chegaram a perguntar para os professores o que estava acontecendo.
A menina foi chamada na sala da direção para conversar e, no final da aula, ela, a mãe e a diretora conversaram por mais de meia hora para tentar encontrar uma saída. A mulher foi orientada a tirar a menina da escola e da cidade e ambas também devem sair da rede social.
O delegado João Adolpho Fleury Castilho, um dos policiais diretamente envolvido na investigação envolvendo as facções criminosas na zona Norte, preferiu não falar sobre o caso. A Polícia Civil não revela a estratégia de investigação adotada para neutralizar a guerra entre facções e prender os assassinos de Israel. Por enquanto, nem o corpo do adolescente assassinado no começo da semana passada foi encontrado. A cabeça dele foi deixada em uma mochila numa rua movimentada do bairro Jardim Paraíso.
O crime é um dos mais chocantes da história recente de Joinville também porque os assassinos filmaram a decapitação a machadadas. O vídeo, uma provocação explícita ao Primeiro Comando da Capital (PCC) se tornou um viral, especialmente na zona Norte da cidade.
O nome da menina, da mãe, da diretora, da escola e até o bairro onde tudo aconteceu foram omitidos nesta reportagem em respeito ao que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e por questão de segurança.
Mais de 50 agentes buscam por corpo de jovem decapitado em Joinville
Morte de adolescente decapitado em Joinville repercute em todo o país
Criminosos de Joinville zombam da segurança pública ao matar adolescente
Especial
É possível recuperar um adolescente que se envolve com o crime?