O que leva um jovem a entrar para o mundo do crime e das drogas? Recentemente, o assassinato brutal de um adolescente de 16 anos em Joinville acendeu a discussão. Para tentar buscar respostas para essa pergunta, "AN" ouviu especialistas, que podem ajudar a esclarecer o tema.
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Há dez anos, o sargento da Polícia Militar Albertino Manoel Grigório repete o mesmo trabalho pedagógico na Escola Municipal Emílio Paulo Roberto Hardt, na Vila Canela, no distrito de Pirabeiraba, em Joinville. Nem o tempo, nem o desafio da missão reduzem o entusiasmo do profissional.
Ele e o sargento José Luiz de Oliveira são os responsáveis pelo Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), que a Polícia Militar realiza em toda a rede de ensino de Joinville para alunos de 9 a 11 anos do 5º ano.
Durante a visita à escola nesta semana, ex-alunos de 2015 receberam os policiais com alegria e um deles deu um abraço de despedida no policial Albertino.
No ano passado, os jovens completaram as dez lições da cartilha para dizer não às drogas e voltaram em 2016 com os ensinamentos fresquinhos na cabeça, determinados a seguirem o que aprenderam.
De acordo com Oliveira, nesta faixa etária, as crianças não costumam ter contato com drogas e a memorização é maior. Mas o policial alerta que só o trabalho da PM não é suficiente para garantir o futuro dos jovens. A participação da família também é fundamental. A prevenção às drogas e ao crime começa a partir do berço, alerta Oliveira. Segundo ele, não adianta começar a disciplinar o filho aos 13 ou 14 anos.
- Quando os pais colocam regras muito tarde, elas vão gerar conflito. Da mesma forma, se em casa o jovem não tem regra e na escola tem, isto também vai gerar conflito. Tem criança que ouve o primeiro "não" na escola - afirma.
O policial aconselha os pais a dedicarem algum momento do dia para conversarem com os filhos, acompanharem os estudos, colocar regras claras desde pequenos, cobrar as regras e punir com castigo a desobediência. Impor punições simples, como deixar uma semana sem o celular ou o computador, por exemplo.
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Outra orientação repetida por ele e outros especialistas ouvidos pela reportagem é a de supervisionar a rotina dos filhos. Oliveira diz que o assunto das drogas pode ser introduzido no diálogo com os filhos a partir dos nove anos. Os pais devem ser criativos, aproveitarem algum acontecimento, o noticiário para tocar no assunto.
No início, diz o policial, os jovens se esquivam, acham o papo careta. Por esta razão, os pais devem criar um vínculo de amizade com os filhos desde cedo para ganhar a confiança. Oliveira diz que a cobrança não é vista como algo ruim para o jovem, pois quando o pai ou a mãe cobram, estão demonstrando interesse por ele.
- A maioria dos jovens envolvidos com drogas reclama da ausência dos pais - ressalta.
Jovens que já estão usando drogras podem pedir ajuda a qualquer tempo ao Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi) "Cuca Legal", que funciona na rua Alexandre Schlemm, no bairro Bucarein. Eles devem estar acompanhados de um responsável. Pais que descobriram que o filho está envolvido com drogas também podem pedir auxílio.
A coordenadora do Capsi, Kátia Pessin, diz que o plano de trabalho com o jovem que faz uso de drogas é personalizado e dura até três meses.
- Nosso foco é o tratamento, reduzir os danos e tabalhar as relações familiares. Muitas famílias são resistentes, só enxergam problema no adolescente - diz.
A maioria dos jovens atendidos não frequenta mais a escola, vive em conflito com a família e está em uma idade de "viver intensamente", fatores que influenciam no caminho para as drogas. Apesar de o índice de abandono do tratamento ser alto, Kátia diz que a volta sempre é possível.
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