
A ausência do vice-presidente Michel Temer na posse de Luiz Inácio Lula da Silva como ministro escancarou o distanciamento da cúpula do PMDB com o Palácio do Planalto. Temer ficou irritado com a nomeação do deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para assumir a Secretaria de Aviação Civil. O novo ministro corre o risco de ser expulso do partido.
Neste clima de separação, o PMDB convocou para o próximo dia 29 a reunião de seu diretório nacional que pode decidir a saída do governo.
Além do vice, não compareceram na solenidade os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), ambos citados por Lula nas gravações de suas conversas por telefone. A ausência de Renan foi a mais sentida. Nas disputa para impedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff, ele é considerado decisivo.
Na manhã desta quinta-feira, representantes dos diretórios do PMDB de oito Estados (RO, SC, BA, ES, DF, MS, AC e SP) protocolaram uma representação na presidência da sigla pedindo a expulsão de Lopes, que tomou posse na Aviação junto com Lula. Cerca de 20 deputados endossaram o pedido.
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Temer considerou a entrada de Lopes na equipe ministerial de Dilma Rousseff uma "afronta" ao PMDB, que no último sábado aprovou moção que impedia a entrada de integrantes da legenda em cargos no governo pelos próximos 30 dias. O deputado mineiro ignorou o termo e aceitou a assumir o ministério, o sétimo do PMDB.
– O governo resolveu pagar para ver se o PMDB tinha coragem e independência. Verão que exigimos respeito à nossa base e suas decisões. Chegou a hora de mostrarmos se queremos nosso partido grande e respeitado ou nanico e rumo à extinção – reagiu o ex-ministro Eliseu Padilha (RS), braço direito de Temer.
O vice também criticou a escolha de Lula para chefiar a Casa Civil, por considerar que a nomeação não conseguirá pacificar as relações políticas no Congresso. O ex-presidente telefonou na quarta-feira para Temer, a fim de tentar agendar um encontro informal. O vice-presidente respondeu que só falaria com Lula em uma audiência previamente marcada.
Apesar da postura da direção do partido de afastamento do governo, o PMDB vive uma divisão protagonizada por seus ministros, que não querem deixar os cargos. A posse de Lula na Casa Civil foi prestigiada por peemedebistas da Esplanada, como Marcelo Castro (Saúde), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Helder Barbalho (Portos). Eduardo Braga (Minas e Energia) desceu a rampa do terceiro para o segundo piso do palácio ao lado de outros ministros de Dilma.
Para a comissão especial de deputados que dará o parecer sobre o impeachment de Dilma, o líder Leonardo Picciani (RJ) reservou três das oito vagas do partido para nomes favoráveis ao afastamento: Osmar Terra (RS), Mauro Mariani (SC) e Lúcio Vieira Lima (BA). Entre os suplentes, a divisão ficou em quatro contra e quatro pró-impeachment.
– Vai ser unanimidade para o impeachment. Depois do que aconteceu nos últimos dias, ninguém vai ter coragem de votar a favor de Dilma – afirma Terra.
* Zero Hora