
No domingo marcado por protestos contra o governo em diversas capitais, militantes petistas e integrantes de movimentos sociais comandaram manifestações isoladas em apoio à administração federal em pelo menos sete cidades. Nenhuma delas reuniu tanta gente quanto Porto Alegre, onde os ativistas se aglomeraram na Redenção para promover o tradicional "coxinhaço". Segundo a Brigada Militar, o público chegou a 5 mil militantes e, de acordo com a organização, 10 mil.
Vestido com uma camisa vermelha coberta por um paletó preto, o índio caingangue Adair Buapa da Silva, 44 anos, e outros 41 integrantes da sua tribo em Tenente Portela, foram alguns dos primeiros militantes a chegar ao ato, organizado por partidos da base do governo (PT e PC do B) e movimentos sindicais em defesa do governo Dilma Rousseff. O grupo encarou sete horas de viagem. Nas mãos, além de uma bandeira vermelha com a estrela do PT, o indígena carregava um cartaz com a inscrição: "verás que um filho teu não foge à luta".
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– Viajamos a noite toda para chegar aqui. A nossa reivindicação é a permanência do governo – decretou.
Embora tenha sido convocada para apoiar a presidente Dilma, a manifestação na Capital ganhou contornos de desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por quatro crimes. Em diversos momentos, os ativistas deixaram de lado os gritos de suporte ao governo para entoar cantos a favor de Lula.
– Não vejo nada contra ele. Depois que o Lula assumiu, a vida melhorou. Temos de defendê-lo – disse o agricultor Francisco da Luz Matos, de Palmeira das Missões.
Os manifestantes, que se instalaram em frente ao Monumento ao Expedicionário, diante de um caminhão de som alugado pelas centrais sindicais, promoveram o "coxinhaço", em provocação ao público do protesto que ocorria simultaneamente no Parcão. Apesar de o ato oficial estar marcado para iniciar às 14h, antes do meio-dia a movimentação no parque já era grande. Foram montadas tendas e acionadas pelo menos quatro churrasqueiras para assar as centenas de coxas de galinha. Em poucos minutos, a fila para comprar as coxinhas, que estavam sendo vendidas a R$ 2, já contava com dezenas de pessoas. E assim se manteve ao longo de praticamente toda a manifestação – até se esgotarem.
Segundo o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Claudir Nespolo, um dos organizadores, o principal objetivo foi a defesa da democracia. Nespolo, que reproduz uma opinião corrente entre os integrantes do ato, reclama da suposta seletividade das investigações que desvendaram casos de corrupção.
– Reivindicamos a forma como os setores da Justiça estão conduzindo as investigações, principalmente da Lava Jato, e as consideramos parciais e seletivas. Isso tem o objetivo de impedir o governo Dilma a continuar e inviabilizar a candidatura de Lula em 2018 – afirmou Nespolo.
Ao longo da tarde, líderes de sindicatos e políticos ligados aos partidos mais próximos à esquerda na base do governo Dilma se revezaram no trio elétrico com discursos inflamados em defesa do ex-presidente Lula e da presidente. Poucas foram as manifestações diretas de apoio à figura de Dilma. A maioria foi direcionada a Lula ou ao mandato conquistado pela chapa liderada pelo PT em 2014. Em diversos momentos, sindicalistas fizeram cobranças ao governo, pedindo mudanças na política econômica e no perfil das alianças.
– A democracia está sendo desrespeitada. Estão reduzindo o valor dos votos dos eleitores de uma presidente que obteve mais de 50 milhões de votos. O governo precisa melhorar, Dilma precisa mudar as alianças. O PT não é perfeito, porque ele é composto por seres humanos, mas ainda é o melhor partido – afirma a militante Tereza Kieling, 59 anos.
No microfone do palanque, líderes como os ex-governadores Olívio Dutra, ovacionado pelo público, e Tarso Genro, e o ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, engrossaram a defesa "da democracia", pedindo que fosse respeitado o resultado das urnas nas últimas eleições. O grupo que promoveu o ato promete uma nova manifestação para a sexta-feira, 18 de março..
Em uma nota curta, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência destacou o caráter pacífico dos atos. Leia, na íntegra:
"A liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada.O caráter pacífico das manifestações ocorridas neste domingo demonstra a maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes e sabe garantir o respeito às suas leis e às instituições.
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República"