O juiz Sergio Moro retirou, nesta quarta-feira, o sigilo de interceptações telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feitas durante a 24ª fase da Operação Lava-Jato. As conversas incluem um diálogo entre a presidente Dilma Rousseff e Lula em que os dois preparam um "termo de posse" a ser assinado. Além disso, o monitoramento também sugere tentativa de influência no Ministério Público e no Judiciário.
"Trata-se de processo vinculado à assim denominada Operação Lava-Jato e no qual, a pedido do Ministério Público Federal, foi autorizada a interceptação telefônica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de associados", registra o magistrado.
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Moro aponta que Lula sabia ou desconfiava que era monitorado.
"Rigorosamente, pelo teor dos diálogos degravados, constata-se que o ex-presidente já sabia ou pelo menos desconfiava de que estaria sendo interceptado pela Polícia Federal, comprometendo a espontaneidade e a credibilidade de diversos do diálogos."
O juiz da Lava-Jato remeteu o conteúdo referente a Lula para o Supremo Tribunal Federal (STF), após ele ser nomeado ministro da Casa Civil, nesta quarta-feira.
"A interceptação foi interrompida." O juiz registra que "alguns diálogos sugerem que tinha conhecimento antecipado das buscas efetivadas em 4 de março de 2016". Neste dia, o ex-presidente foi alvo da Operação Aletheia e levado coercitivamente para depor. Sua casa e a dos filhos passaram por buscas.
Diálogo
– Dilma: Alô
– Lula: Alô
– Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.
– Lula: Fala, querida. Ahn.
– Dilma: Seguinte, eu tô mandando o 'Messias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!
– Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.
– Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
– Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.
– Dilma: Tá?!
– Lula: Tá bom.
– Dilma: Tchau.
– Lula: Tchau, querida.
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Influência
"Observo que, em alguns diálogos, fala-se, aparentemente, em tentar influenciar ou obter auxílio de autoridades do Ministério Público ou da Magistratura em favor do ex-presidente", afirma Moro.
Ele pondera, no entanto, que "não há nenhum indício nos diálogos ou fora deles de que estes citados teriam de fato procedido de forma inapropriada e, em alguns casos, sequer há informação se a intenção em influenciar ou obter intervenção chegou a ser efetivada".
Um dos casos citados envolve uma ministra do STF. "Há, aparentemente, referência à obtenção de alguma influência de caráter desconhecido junto à exma. ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, provavelmente para obtenção de decisão favorável ao ex-presidente na ACO 2822, mas a eminente magistrada, além de conhecida por sua extrema honradez e retidão, denegou os pleitos da defesa do ex-Presidente."
Há ainda citação do presidente do STF, Ricardo Lewandowski. "De igual forma, há diálogo que sugere tentativa de se obter alguma intervenção do exmo. ministro Ricardo Lewandowski contra imaginária prisão do ex-Presidente, mas sequer o interlocutor logrou obter do referido magistrado qualquer acesso nesse sentido. Igualmente, a referência ao recém nomeado ministro da Justiça Eugênio Aragão ("parece nosso amigo") está acompanhada de reclamação de que este não teria prestado qualquer auxílio."
Moro destaca ainda que fez essas referências "apenas para deixar claro que as aparentes declarações feitas pelos interlocutores sobre obter auxílio ou influenciar membro do Ministério Público ou da Magistratura não significa que esses últimos tenham qualquer participação nos ilícitos, o contrário transparecendo dos diálogos".
"Isso, contudo, não torna menos reprovável a intenção ou as tentativas de solicitação." O juiz da Lava-Jato levantou sigilo sobre os áudios. "Observo que, apesar de existirem diálogos do ex-presidente com autoridades com foro privilegiado, somente o terminal utilizado pelo ex-presidente foi interceptado e jamais os das autoridades com foro privilegiado, colhidos fortuitamente." E remeteu a parte referente a Lula ao STF. "Diante da notícia divulgada na presente data de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria aceito convite para ocupar o cargo de ministro chefe da Casa Civil, deve o feito, com os conexos, ser remetido, após a posse, aparentemente marcada para a próxima terça-feira, quando efetivamente adquire o foro privilegiado, ao Egrégio Supremo Tribunal Federal."