
No Encontro Regional do PMDB, realizado em Porto Alegre durante toda a manhã deste sábado, o tom que predominou foi abandonar o governo Dilma Rousseff.
Nas discussões sobre os rumos do partido em meio à crise política - várias vezes interrompidas por gritos de "fora, Dilma" e "cadeia para Lula" - líderes de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná defenderam a proposta de sair da base do governo. Representantes do Mato Grosso do Sul também apoiam a ideia e assinaram a "Carta do Sul", que foi lançada ao final do evento.
Entre os presentes, estava o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, que disparou:
_ Não sei até hoje por que entramos no governo.
Sartori destacou que o momento deve ser de serenidade.
_ É preciso serenidade e tranquilidade no processo de investigação. Às vezes, isso gera aventuras. Como governador tenho a obrigação de dizer ao Rio Grande do sul que é preciso seriedade, responsabilidade e serenidade. Todo mundo tem o direito de defender suas posições, mas a democracia é um valor grande e forte, que não pode ser perder. Mas também alguns têm que perder um pouco a arrogância e superioridade de achar que estão sempre certos _ afirmou o governador.
O ex-governador Germano Rigotto defendeu que o vice-presidente da República, Michel Temer, seja apoiado para enfrentar grandes desafios. Uma fala comum entre os presentes foi de que o PMDB tem de ser protagonista no enfrentamento da crise.
_ É a hora de o PMDB estar preparado para conduzir a superação da crise _ atestou o deputado Ibsen Pinheiro, presidente estadual da sigla.
Durante o encontro, foi explicado que a organização do evento entendeu ser melhor o vice-presidente não participar, conforme antes agendado. O motivo foi a conturbada sexta-feira depois da deflagração da 24ª fase da Operação Lava-Jato, que teve como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
_ Ele (Temer) precisa focar em ser vice-presidente _ disse o senador Roberto Requião, presidente do PMDB do Paraná.
O deputado federal Darcísio Perondi defendeu que o partido "deve declarar independência".
_ A crise chegou na casa da Dilma, no quarto de Lula e a operação Lava-Jato deve ser aplaudida _ afirmou.
Pedro Simon ressaltou que "hoje, no Brasil, a Justiça está funcionando". E que se Lula proclamou que irá percorrer o país, "o PMDB também tem que ir para as ruas para pedir Justiça".
_ Engraçado que o Lula discursou por 45 minutos (para se defender da operação da PF, na sexta-feira) e não citou a Petrobras _ disse Simon.
Nos discursos inflamados contra a corrupção, o nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), demorou a aparecer. Cunha é réu em processo que investiga a suspeita de que recebeu propina de R$ 5 milhões do esquema da Petrobras. Na última sexta-feira, Cunha foi alvo de nova denúncia da Procuradoria-geral da República por suspeitas envolvendo contas no Exterior.
Ao se manifestar, o vice-prefeito, Sebastião Melo, pediu coerência:
_ Se não queremos a Dilma, vamos querer o Cunha?
E acrescentou que não era possível sair de um governo do qual o PMDB gaúcho já não participava.

Carta do Sul
No encontro, os integrantes debateram a " Carta do Sul ", documento que detalha a proposta de desembarque do governo que será levada à convenção nacional do PMDB, no próximo dia 13 de março.
O encontro deve reeleger mais uma vez Michel Temer como presidente da sigla. A carta propõe que o PMDB "se afaste dessa desastrosa condução do país e atue de forma independente do governo federal".
Na manifestação, a regional sul critica as crises ética e econômica pelas quais passa o país.
_ Temos que desembarcar do governo e construir a unidade em torno do vice-presidente Michel Temer e da direção nacional do partido para socorrer o Brasil e ajudá-lo a sair do precipício onde se encontra _ diz trecho do documento.
Temer participaria do encontro em Porto Alegre, porém cancelou suas agendas e acompanha de São Paulo os desdobramentos da instabilidade política criada após a condução coercitiva do ex-presidente Lula.
Temer estava em Campo Grande quando a operação contra Lula foi deflagrada na sexta-feira. Ao retornar para São Paulo, passou o dia em seu escritório profissional, na companhia de outros membros do PMDB.
_ A decisão nesse momento é de silêncio, nenhuma palavra ou ato. Estamos roucos de tanto ouvir. Nossa conclusão é de que tudo que podemos fazer é não fazer nada _ disse o ex-ministro Eliseu Padilha, que estava em roteiro com o vice-presidente na sexta-feira.
Temer e Dilma não conversaram durante a sexta-feira.
No Congresso, a ala de oposição do PMDB retoma as articulações para o impeachment de Dilma, que levaria Temer e o partido ao Planalto. O impeachment também foi defendido no encontro regional de Porto Alegre.
* Colaboraram Carlos Rollsing e Guilherme Mazui