
A presidente Dilma Rousseff passou a manhã desta segunda-feira em seu gabinete no Palácio do Planalto, ao lado de auxiliares diretos, como os ministros Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, avaliando um pouco os resultados da votação de domingo e definindo estratégias para tentar reverter o quadro no Senado.
O sentimento de decepção e repúdio às traições permanecia na manhã desta segunda-feira e a maior queixa foi em relação ao PMDB, que deu apenas seis votos contra o impeachment da presidente Dilma. Esse resultado, considerado "inacreditável", deixou claro para o núcleo do Planalto que Dilma cometeu um erro grave ao manter o PMDB nos ministérios e concentrar energias na negociação com o partido, que já havia debandado.
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Embora o Planalto reconheça que é muito difícil reverter a onda contra o governo no Senado, o momento é de concentrar as forças naquela Casa para tentar evitar que a presidente seja afastada do seu cargo. Na verdade, a situação é considerada dramática. Nesta segunda-feira, no plenário do Senado, o governo tem apenas 21 votos, mas na primeira votação precisa de 41. Por outro lado, as projeções mostram que a oposição já teria os 45 votos necessários.
Dilma está disposta a lutar pelo seu mandato com todas as suas forças e esse é um dos pontos que ela pretende reforçar na fala que está preparando para esta segunda-feira. Não há uma definição, no entanto, do formato da fala de Dilma, prevista para as 17h.
Paralelamente à ofensiva no Congresso, o Planalto está estudando ainda quando e de que forma entrará no Supremo Tribunal Federal (STF) com ação questionando o processo de impeachment. Mesmo sabendo que o STF já deu sinais de que não quer se intrometer em questões do Congresso, o governo acha que não pode deixar de lutar em todas as frentes.
O baque com o resultado de domingo, no entanto, foi grande. Dilma estava indignada com o deputado Mauro Lopes, que foi ministro da Aviação Civil. Na sexta-feira, ele almoçou com a ministra e senadora Kátia Abreu e sinalizou que, no mínimo se absteria de votar. Mas nunca deu a entender que votaria contra, como fez. Dilma e sua equipe ficaram indignadas também com Alfredo Nascimento, afastado por Dilma na faxina que ela fez no início do seu primeiro mandato. O gesto foi entendido como clara vingança.
Outro que deixou Dilma profundamente irritada e surpresa foi o deputado Adail Carneiro (PP-CE). Não que Dilma confiasse nele, mas ele esteve durante horas na tarde de domingo no Alvorada, onde Dilma se reunia com seus auxiliares, assegurou que votaria "não" para ela e o governador do Estado, Camilo Santana. Só que saiu de lá e votou a favor do impeachment.
– Ué, esse cara não passou a tarde toda aqui com a gente e foi lá e votou contra? – queixou-se, "perplexa", Dilma.
Mas, a cada voto prometido e não cumprido, Dilma repetia.
– O que é isso? Não acredito. Que coisa!
No Planalto havia também indignação com a foto publicada na imprensa do vice Michel Temer com largo sorriso nos lábios acompanhando a votação. Apesar da ira de todos, a presidente reiterou que precisa se concentrar na tentativa de convencer os senadores de não afastá-la do cargo.
*Estadão Conteúdo