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Aos 75 anos, Michel Miguel Elias Temer Lulia já age como presidente informal. Nos últimos dias, a residência oficial da Vice-Presidência, em Brasília, tornou-se ponto de romaria de políticos para o beija-mão no homem que se apresenta como "o pacificador da nação". Essa busca por uma imagem de estadista capaz de estancar a crise política, econômica e social é obra de dois dos seus mais influentes conselheiros: o consultor de comunicação Gaudêncio Torquato e o filósofo Denis Rosenfield.
Cerimonioso, Temer não abre mão da fleuma que lhe é peculiar, mas fala abertamente no cenário pós-Dilma, discutindo medidas e nomes para um futuro ministério. É nesse desenho que atua Rosenfield. Cabe a ele o papel de formulador do novo ideário peemedebista: liberal, privatista e adepto do rigor fiscal. Não há texto ou concepção que não passe pelo crivo dele. Outros confidentes de Temer são o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e o advogado paulista José Yunes.
De olho em possíveis reações de movimentos sociais e sindicatos
Uma das principais preocupações desse grupo para os primeiros dias de um futuro governo Temer é a reação dos movimentos sociais e das centrais sindicais vinculadas ao PT. No curto prazo, o plano é cortar todos os repasses de recursos federais para organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e assemelhados. Em seguida, aprovar o fim do imposto sindical, butim próximo de R$ 3 bilhões, distribuído todo ano a cerca de 10 mil entidades.
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Para o comando da economia, Temer busca alguém com credibilidade no mercado e interlocução com o Congresso. O grupo de Temer tem confiança de que a maioria obtida na votação do impeachment será mantida como base de sustentação parlamentar, à medida que o novo governo terá sua legitimidade afiançada pelo próprio parlamento.
– O nosso maior patrimônio é essa articulação que fizemos para aprovar o impeachment. É natural que os partidos que derrotaram Dilma agora se incorporem à base de um governo Temer – avalia o deputado Osmar Terra (PMDB-RS).
Manter relação com PSDB é motivo de preocupação
Contudo, causa angústia ao vice a forma de evitar dissabores com o PSDB, maior partido de oposição a Dilma e hoje dividido entre as alas dos senadores Aécio Neves (MG), José Serra (SP) e do governador Geraldo Alckmin (SP). Como os três pretendem disputar a eleição de 2018, Temer não quer alimentar rancores ao privilegiar algum dos grupos em detrimento dos demais.
– Serra sonha em ser ministro da Fazenda do Temer, algo como o Fernando Henrique (Cardoso) foi no governo Itamar Franco. Só que isso o Aécio não aceita de jeito nenhum. Vai ser preciso ter muito cuidado nessa operação – afirma um conhecedor dos planos tramados no Palácio do Jaburu.
A formação de uma equipe de notáveis e a habilidade política de Temer também são considerados trunfos para vencer essa questão e para a aprovação de temas polêmicos, como reformas trabalhista e da Previdência. O peemedebista pretende reduzir o número de pastas na Esplanada para algo em torno de 20 ministérios, intensificar as parcerias público-privadas e limitar o papel do Estado ao trinômio saúde, educação e segurança.
Nos bastidores, os conselheiros de Temer estimam ter prazo de seis meses para, pelo menos, melhorar o cenário econômico, com redução da inflação e retomada dos índices de emprego. Como as pesquisas de opinião apontam rejeição a Temer, essas duas metas teriam de ser atingidas até as eleições municipais para evitar descontentamento popular que afete as candidaturas de PMDB e partidos aliados. Se obtiver êxito, ele se consagraria no papel que escolheu para si desde o início da crise política: o de condutor de um "governo de salvação nacional".