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Em discurso para milhares de pessoas em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu, nesta segunda-feira, que o vice-presidente Michel Temer estaria à frente de articulação política para tirar a presidente Dilma Rousseff do poder.
– Eu não tenho nada contra o vice-presidente Michel Temer. Mas, companheiro Temer, você quer ser presidente? Disputa eleição – disse.
Lula participou, na noite desta segunda-feira, de ato organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em defesa da presidente. Os discursos ocorreram em palanque montado em cima de um caminhão, posicionado em frente à sede do sindicato.
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A provocação feita por Lula a Temer no evento de hoje não foi a primeira. No último sábado, o ex-presidente participou de ato em Fortaleza, onde criticou a oposição e afirmou que, se o vice-presidente Michel Temer assumir o governo, será um golpe.
– A nossa resposta a ser dada aos opositores é garantir a governabilidade de Dilma – disse. Ele também declarou que Temer, como constitucionalista, sabe que "impeachment é um golpe".
Último a falar, Lula chegou a puxar o grito "Não vai ter golpe!" e convocou a militância a ir para as ruas no dia da votação do impeachment.
– Eles estão tentando preparar uma treta para nós –afirmou Lula – Não vamos permitir que nossa Constituição seja rasgada, ferida, que nossa democracia seja arranhada – acrescentou.
O ex-presidente também sugeriu que, se conseguir assumir o posto de ministro-chefe da Casa Civil, trabalhará para que o ajuste fiscal seja substituído por uma política de estímulo ao consumo.
– É preciso dar uma consertada na política econômica – afirmou. – A indústria automobilística está perdendo outra vez, e nós precisamos recuperar, é preciso vender carro – disse o ex-presidente, para um público formado principalmente por metalúrgicos. O setor enfrenta uma grave crise e cortou, só no ano passado, 14,7 mil vagas de emprego.
Apesar de sinalizar para uma política econômica que desagrada o mercado financeiro, Lula afirmou que continua sendo o "Lulinha paz e amor", em referência ao seu primeiro mandato, quando quebrou a desconfiança dos empresários ao se mostrar um presidente que buscava a conciliação em questões econômicas. Disse ainda que aqueles que criticam a presidente Dilma por falta de diálogo irão "se lascar", pois ele, no governo, irá conversar.
Sobre as investigações da Operação Lava-Jato a seu respeito, Lula voltou a falar de sua honestidade.
– Duvido que exista alguém mais honesto do que eu – disse Lula, que também afirmou que "ainda tem uma tarefa a ser realizada neste País". Suas falas eram intercaladas por gritos de apoio e aplausos. Para receber o evento, a Rua João Basso foi bloqueada pela prefeitura.
Defesa de Lula e referências à ditadura
Segundo o sindicato, cerca de 5 mil pessoas compareceram ao ato. Lula foi recebido com a música Pra não dizer que não falei na flores, de Geraldo Vandré, canção geralmente associada à luta contra a ditadura militar. A parte frontal do palanque exibia uma faixa com a logo do sindicato, uma imagem de Lula e a hastag #somostodosLula. Outra faixa, pendurada no próprio sindicato, estampa a frase: "Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo".
Os militantes vestiam vermelho em sua maioria e balançavam bandeiras do PT, do sindicato e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Apresentações musicais embalaram o público antes da chegada do ex-presidente. Também discursaram o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, que já foi presidente do sindicato, o atual presidente da entidade, Rafael Marques, e o presidente da CUT, Vagner Freitas.
Desde que foi convidado por Dilma para assumir o comando da Casa Civil, em março, o ex-presidente tem viajado o Brasil para participar de manifestações contrárias ao impeachment e a favor da democracia. Embora ainda não tenha assumido o posto, já que teve sua nomeação suspensa pela Justiça, ele também tem colaborado com a articulação política do Planalto, em um esforço para reunir o apoio de pelo menos um terço dos 513 deputados federais, mínimo necessário para barrar o processo de afastamento da presidente. A volta de Lula ao governo, mesmo que informalmente, não impediu, no entanto, que o PMDB, até então principal aliado do PT, confirmasse a saída da base, em encontro do partido semana passada.