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Depois da carta endereçada a presidente Dilma Rousseff, em dezembro, outro vazamento constrangedor para o vice-presidente Michel Temer: se tornou público um áudio registrado nesta segunda-feira em que ele tecia comentários políticos e se dirigia à nação como se o plenário da Câmara tivesse aprovado o impeachment de Dilma Rousseff. No áudio, ele chega a citar que os deputados avalizaram o processo de afastamento da petista com “votação significativa”. A sessão que definirá isso, contudo, acontecerá somente no domingo.
Depois da repercussão do vazamento, Temer chamou entrevista coletiva no final da tarde desta segunda-feira, no gabinete da vice-presidência. Foi uma fala breve, de cerca de três minutos, em que ele começou se pronunciando. Respondeu brevemente a apenas uma pergunta. Ele disse que a gravação se tornou pública por um erro. O vice-presidente queria mandar a companheiros de partido, mas acabou enviando a um grupo de WhatsApp. Dali, o conteúdo logo se alastrou como fogo em palha.
– Eu falava com vários companheiros e, naquele momento, me perguntaram se eu já estava preparado para a eventualidade daquilo que viesse a acontecer no próximo domingo. Certa e seguramente se exigiria manifestação minha. Eu disse olha, até vou gravar aqui uma coisa que eu imagino que eu possa dizer. E daí fiz uma gravação onde eu ressaltei pontos que eu tenho defendido ao longo do tempo: a pacificação absoluta do país, a unidade do país, o chamamento de todos os partidos para um governo, digamos assim, de salvação nacional. (...) Eu fui dizendo exatamente isso na gravação. Confesso que, depois, quando resolvi mandar para um outro amigo, houve um equívoco e foi para um grupo, que acabou divulgando esta matéria – explicou o vice-presidente, que, em caso de confirmação do impeachment, herda o comando do país.
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Embora aparentemente constrangido, Temer não voltou atrás, se desculpou ou lamentou qualquer trecho do conteúdo. Também ressaltou que não se referiu ao afastamento de Dilma como fato consumado. Depois da Câmara, ainda há a fase de julgamento no Senado.
– Verifiquem a gravação, que respeitosamente me dirigi ao Senado Federal. Apesar da eventual decisão que hoje se dê, ainda temos que cautelosamente aguardar a decisão do Senado Federal. Mas ainda que o governo continue tal como está, eu continuarei sustentando as mesmas teses. Não mudei um centímetro daquilo que eu falei no passado. São teses que tenho sustentado ao longo do tempo – justificou o peemedebista.
Ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini chamou Temer de golpista e disse que ele “sentou na cadeira antes da hora”. Confrontado com o fato, Temer foi sucinto.
– Certas afirmações não merecem, digamos assim, a honra de minha resposta – abreviou, numa sinalização clara do clima hostil que paira na relação entre PT e PMDB no Palácio do Planalto.
Quando se retirava, o peemedebista ainda foi questionado se o vazamento poderá influenciar e mudar o voto de parlamentares até então favoráveis ao afastamento. Ele movimentou o indicador para os lados, em sinal de “não”.
Na Câmara, houve perplexidade com o conteúdo das gravações. Surgiram análises de que ele desrespeitou a Casa ao dar como certo o resultado da votação de domingo. Outros consideraram uma atitude de “amadorismo”, sobretudo por fazer transitar o áudio pela rede, assumindo o risco de vazamento. Para o deputado Marco Maia (PT-RS), Temer cometeu “mais erros do que Frank Underwood” na busca pela presidência, em referência humorada sobre o personagem da série de TV House of Cards.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), afirmou que o áudio vazado é "imprevidente, mas premonitório". Para o tucano, ele antecipa um resultado e serve para trazer tranquilidade.
– A fala serve para trazer tranquilidade. Vai dar obviamente base e munição para os que fazem o discurso de que ele (Temer) é conspirador – disse Cássio.
Para ele, contudo, a instabilidade já está posta no País e as declarações servem mais para tranquilizar em meio a grandes incertezas.
O senador da oposição Alvaro Dias (PV-PR) disse que o vice-presidente já está "ensaiando" assumir o Palácio do Planalto, dando como "favas contadas" o impeachment de Dilma.
*Zero Hora com agências