
O curta-metragem brasileiro A Moça que Dançou com o Diabo, de João Paulo Miranda Maia, que disputava a Palma de Ouro na categoria de melhor curta-metragem, obteve uma menção especial do júri do Festival de Cannes. O curta, de 14 minutos, conta a história de uma menina que pertence a uma família muito religiosa e sai em busca de seu próprio paraíso.
Ao receber a distinção, Miranda comemorou a presença em Cannes de outros filmes do país, ausente do festival nos últimos anos. Assim como fizeram outros cineastas durante a mostra, o diretor do curta aproveitou o espaço para protestar contra o governo de Michel Temer e sua decisão de acabar com o ministério da Cultura - da qual o presidente interino voltou atrás.
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"É muito perigoso para a liberdade de expressão e a liberdade artística", disse o diretor, em coletiva de imprensa após a premiação.
No sábado, Cinema Novo, de Eryk Rocha, sobre este movimento cinematográfico brasileiro, levou o prêmio Olho de Ouro de melhor documentário.
Apesar de muito aplaudido, o longa-metragem Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, protagonizado por Sônia Braga, único filme da América Latina na disputa pela Palma de Ouro, deixou Cannes com as mãos vazias.
Filme de Ken Loach foi o grande vencedor
I, Daniel Blake, uma crítica implacável contra a injustiça social na Inglaterra, rendeu ao diretor britânico Ken Loach a Palma de Ouro, o prêmio máximo do Festival de Cannes.
"Outro mundo é possível e é necessário!", disse o diretor, de 79 anos, ao receber o prêmio, a segunda Palma de Ouro de sua longa carreira, dedicada ao cinema social. A primeira foi em 2006, com Ventos da Liberdade.
Em seu discurso de agradecimento, Loach aproveitou a oportunidade para fazer uma crítica enérgica aos riscos do liberalismo.
"O mundo em que vivemos está em uma situação perigosa, à beira de um projeto de austeridade que chamamos de neoliberal, que corre o risco de nos levar à catástrofe", disse.
A classe trabalhadora em declínio é a protagonista do filme de Loach, um inquietante espelho da nossa era, que mostra o calvário cotidiano de se procurar um emprego, ou manter a ajuda social, em uma Inglaterra mergulhada na crise.
Daniel Blake (Dave Johns) é um carpinteiro de 59 anos, originário da cidade inglesa de Newcastle, que se vê forçado a recorrer a essa ajuda, após sofrer problemas cardíacos.
Embora seu médico o proíba de trabalhar, o sistema o obriga a procurar emprego, ou se expor a perder a escassa assistência que lhe permite apenas sobreviver.
Em sua visita diária ao escritório que atende aos desempregados, ele conhece uma mãe solteira (Hayley Squires), também em dificuldades e igualmente presa, com seus dois filhos, a um sistema que a esmaga.
O autor, que fará 80 anos em junho, e tem uma longa filmografia militante, ratifica, assim, seu postulado de base: o capitalismo selvagem engole o indivíduo.
O prêmio de melhor atriz ficou com a filipina Jaclyn Jose, de 52 anos, pelo papel principal em Ma'Rosa, uma denúncia contra a corrupção dirigida por seu compatriota Brillante Mendoza.
Entre os atores, o prêmio de melhor interpretação foi para o iraniano Shahab Hosseini, de 42 anos, pelo papel de um ator de teatro em The Salesman. Esse drama do iraniano Asghar Farhadi sobre a classe média de Teerã também faturou o prêmio de melhor roteiro.
Em melhor direção, o francês Olivier Assayas e o romeno Cristian Mungiu dividiram o prêmio por Personal Shopper e Bacalaureat, respectivamente.
O francês Jean-Pierre Léaud, ator queridinho de François Truffaut e protagonista de La Mort de Louis XIV, do espanhol Albert Serra, foi premiado com uma Palma de Ouro honorária por sua trajetória.
Embora Pedro Almodóvar tenha deixado Cannes pela quinta vez sem a Palma de Ouro, que disputava com Julieta, outro espanhol, o catalão Juanjo Giménez levou o prêmio de melhor curta-metragem, com Timecode.
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