
Os trabalhadores de usinas nucleares na França juntaram-se, nesta quinta-feira, à onda de greves contra a reforma trabalhista do governo. Os movimentos têm provocado a escassez de combustível e outros problemas econômicos no país.
A paralisia crescente ocorre a duas semanas da abertura do Eurocopa, em 10 de junho. Os sindicatos convocaram um novo dia de protestos, o oitavo desde o início do movimento há três meses. Em várias ocasiões, houve violentos confrontos com as forças policiais.
O nono, que será uma manifestação única em Paris, está programado para 14 de junho, quatro dias depois do início do torneio de futebol.
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O primeiro-ministro Manuel Valls, sob pressão, admitiu nesta quinta-feira a possibilidade de "mudanças" ou "melhorias" no projeto de lei, e anunciou que receberá no sábado representantes "do setor petrolífero". No entanto, o chefe de governo voltou a descartar a retirada do texto controverso.
Na quarta-feira, Valls havia afirmado que a CGT, que lidera os protestos, "não dita a lei no país". Nesta quinta, voltou a criticar a "irresponsabilidade" da união sindical. O secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, convocou, por sua vez, "uma generalização da greve".
Segundo o governo, a lei dará mais flexibilidade às empresas para combater o desemprego. Já os seus detratores consideram que aumentará a insegurança no trabalho e criticam nomeadamente o artigo dois, que dará primazia aos acordos particulares sobre as negociações de sindicatos profissionais, precarizando as condições de trabalho.
A contestação divide profundamente a esquerda francesa. O governo precisou recorrer a um instrumento constitucional que permite aprovar uma lei sem passar pelo voto no Parlamento, antes de ser tramitada no Senado.
Lembranças de 68
O bloqueio de refinarias e depósitos de petróleo forçou o governo a utilizar suas reservas estratégicas de combustível. O Estado havia usado na quarta-feira três dos 115 dias de reservas disponíveis.
- Vamos fazer todo o necessário para garantir o abastecimento dos franceses e da economia - disse o presidente François Hollande.
Cinco dos oito depósitos de combustível permaneciam bloqueados ou operando bem abaixo de sua capacidade, depois que as forças de segurança dispersaram pela manhã os ativistas que bloqueavam um deles.
Longas filas formam-se nos postos de gasolina, que em muitos casos racionam a distribuição. Os depósitos de quase um terço dos postos de combustível estão secos ou quase vazios, enquanto um popular aplicativo para telefones móveis indica onde ainda há combustível disponível.
Viviane, uma aposentada de 66 anos que esperava para abastecer seu carro em Allier no Centro, compara a atual turbulência com as duas semanas de greves e manifestações maciças de 1968.
- Lembro-me de Maio de 68 e posso dizer que a escassez não é brincadeira. Eu estou tomando precauções - disse a motorista.
Centrais nucleares
A contestação subiu um novo degrau nesta quinta-feira, com o voto a favor da greve nas 19 usinas nucleares do país.
- Entre 50% e 80% dos funcionários estão em greve, de acordo com as centrais - afirmou a porta-voz da CGT nesse setor, Marie-Claire Cailletaud, admitindo que, para manter o fluxo, a França "provavelmente será forçada a importar energia" de países vizinhos.
O organismo que administra a rede elétrica nacional, RTE, declarou, por sua vez, que "a oferta de produção disponível (...) é suficiente para cobrir as necessidades de eletricidade do país".
A oferta foi reduzida em 25% na central de energia elétrica de Nogent-sur-Seine, a cerca de 100 quilômetros ao sudeste de Paris. O movimento de protesto também tem provocado interrupções nos transportes.
A companhia ferroviária SNCF informou na quarta-feira sua quinta greve desde março. Já a Direção-Geral da Aviação Civil (DGAC) recomendou que as empresas reduzam em 15% os seus voos de quinta-feira para o aeroporto Paris-Orly.
Em meio a essa onda de descontentamento, o governo recebeu a boa notícia de que o desemprego caiu pelo segundo mês consecutivo em abril.
* AFP