
Após naufragar a indicação do advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira para o Ministério da Justiça, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tem dito a seus auxiliares mais próximos que considera a escolha para a pasta "mais difícil e delicada" que deverá fazer para a formação do seu eventual governo. Ele busca um nome capaz de evitar suspeitas de que poderá haver qualquer interferência na Operação Lava-Jato.
Nesse caso, o primeiro passo é buscar uma boa relação com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Indicado e reconduzido a pedido da presidente Dilma Rousseff, Janot tem relação apenas "formal e institucional" com Michel Temer. Para auxiliares do vice, "isso ajuda mais do que atrapalha", já que políticos citados nas investigações não poderão cobrar dele qualquer gestão ou ação nem a favor nem contra Janot.
Leia mais:
Partidos travam batalha pelo ministério da Saúde em eventual governo Temer
Quem são os ministeriáveis de um eventual governo Temer
Pressão sobre senadores e ameaça de greve: o futuro das mobilizações
Segundo o núcleo duro de Temer, o ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, errou ao deixar transparecer sua proximidade com o procurador-geral da República. Por causa disso, Cardozo sempre foi criticado pela oposição, pelo governo e pelo PT. Nos bastidores, os ataques mais fortes partiram do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que trabalhou pela demissão dele da Justiça.
No Supremo Tribunal Federal, Temer precisa reconstruir sua relação se o Senado confirmar a decisão da Câmara de dar continuidade do processo de impeachment e afastar Dilma do cargo. Apesar de os ministros da Corte terem aprovado o rito do impeachment, parte do colegiado ainda tem dúvida sobre a capacidade de o vice formar um governo estável capaz de tirar o País da crise.
Temer ainda não pediu uma conversa com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski. O vice-presidente quer evitar constrangimentos, já que Lewandowski irá presidir o julgamento do impeachment no caso do Senado confirmar a abertura do processo.
Leia mais:
Congresso já trabalha pauta de projetos para eventual governo de Temer
Planalto respira ares de fim de festa a 10 dias da votação do impeachment
"Síndrome" da alta rotatividade atinge Esplanada dos Ministérios
No STF, o maior aliado de Temer é o ministro Gilmar Mendes, que é também o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nessa corte, ainda tramita o processo de cassação da chapa Dilma-Temer, de autoria do PSDB. O vice busca a separação dos casos, tarefa que caberá ao advogado Gustavo Guedes.