
Fiel ao seu estilo polêmico, o ex-governador do Ceará e pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disparou uma série de críticas ao governo de Michel Temer durante passagem pelo Rio Grande do Sul. As mais contundentes foram direcionadas ao presidente interino, chamado de "golpista" e "traidor", e às políticas da sua gestão, classificadas como "entreguistas". Ciro afastou a possibilidade de realização de novas eleições, defendida pela pré-candidata da Rede, ex-senadora Marina Silva, que também teve a postura atacada pelo ex-ministro.
O pedetista concedeu entrevista coletiva antes de ministrar palestra no lotado auditório da Faculdade de Economia da UFRGS. Ciceroneado por líderes locais do PDT, como o presidente estadual, Pompeo de Mattos, e o pré-candidato da legenda à prefeitura de Porto Alegre, Vieira da Cunha, Ciro almoçou com correligionários e, no fim da tarde, participa de reunião na sede da sigla.
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Na conversa com os jornalistas, o ex-governador reforçou o discurso que vem entoando em defesa da presidente afastada Dilma Rousseff e, embora admita que a probabilidade de o Senado absolvê-la é pequena, considera que ainda há uma possibilidade remota no horizonte da petista:
– Estou lutando por isso e acredito que essa possibilidade existe. Estamos falando de cinco senadores botarem a mão na cabeça e separarem as suas honradas biografias dessa quadrilha de salteadores que, sob a liderança do senhor Michel Temer, golpista e traidor, pretende usurpar o poder democrático no Brasil para criar um realinhamento internacional completamente entreguista e para revogar na prática o ideário da Constituição de 88.
Ciro acrescentou que o governo Temer é uma "quadrilha" chefiada pelo peemedebista, que teria se associado a Eduardo Cunha, Romero Jucá e Renan Calheiros "para assaltar os cofres públicos". Sobre a disputa eleitoral de 2018, o ex-ministro afirmou que está colhendo ideias para elaborar um plano de governo e que pretende construir uma aliança de centro-esquerda. Dois dos possíveis adversários dele na eleição, Marina Silva e o ex-presidente Lula, receberam críticas. Primeiro, Ciro ironizou o "marinismo", classificação que dá àqueles que não têm opinião e ficam em cima do muro. Depois, disse que Lula, embora na sua opinião "não seja corrupto", "tem a moral frouxa".
– Na minha opinião, Lula não é corrupto. Ele tem uma moral frouxa. Esses sintomas que estão jogando contra ele, para quem conhece o Brasil como eu, não são sintomas de um corrupto. Lula é o grande responsável por ter colocado esse lado quadrilha da política brasileira na linha de sucessão. A minha diferença (para os outros candidatos) não é retórica, é de vida, de biografia. Há 36 anos estou na vida pública e não respondi a um inquérito nem para ser absolvido.
O ex-ministro disse que uma das principais tarefas do próximo presidente será organizar os interesses de quem produz e de quem trabalha. Ciro disse que a dependência do país em relação ao capital externo "passou do limite do razoável" e comentou a proposta de reforma da Previdência, dizendo que o governo Temer não está expondo a verdade sobre os números:
– É mentira o que estão dizendo à sociedade brasileira. Todas as receitas que estão, por lei, vinculadas ao financiamento da Previdência brasileira a tornam superavitária, e não deficitária. O país está deficitário crônica e gravemente, mas a Previdência, como tem receitas vinculadas, mais que paga, dá uma sobrinha de R$ 30 bilhões ao ano.
Antes de ir embora do Estado, Ciro Gomes seguirá na terça-feira para São Borja, onde visitará os túmulos de Getúlio Vargas e Leonel Brizola. No fim da tarde, participa do ato de lançamento da pré-candidatura do Professor Nado à prefeitura de São Leopoldo.