
Alguns dos principais editores e executivos de mídia do mundo estão reunidos em Cartagena, na Colômbia, para discutir liberdade de imprensa e os desafios do jornalismo. Até terça-feira, eles participam do 68º Congresso Mundial de Jornais, da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-Ifra). O evento abriga ainda o 23º Fórum Mundial de Editores e o 28º Fórum Mundial de Publicidade. O vice-presidente Editorial do Grupo RBS, Marcelo Rech, e a vice-presidente de Jornais e Mídias Digitais, Andiara Petterle, são painelistas do evento.
Rech, que é presidente do Fórum Mundial de Editores, discursou na cerimônia de abertura, neste domingo. Na ocasião, ele fez a entrega do Golden Pen of Freedom, um dos mais respeitados prêmios de liberdade de imprensa do mundo. Neste ano, o vencedor foi o jornal russo Novaya Gazeta. Fundado em 1993, o periódico teve seis jornalistas assassinados nos últimos anos e é considerado o mais independente e crítico da Rússia.
Além de Rech, também participa dos debates sobre cerceamento à atividade jornalística o presidente emérito do Grupo RBS, Jayme Sirotsky, que presidiu de 1996 a 1998 a Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias.
Também no domingo, Andiara Petterle palestrou num dos painéis mais disputados do congresso. Diante de representantes de empresas de comunicação de 70 países, ela falou sobre novas plataformas de mídia. Andiara apresentou o case ZH Tablet, iniciativa recentemente premiada pelo International News Media Association (INMA) pelo seu formato inovador na distribuição de conteúdo.
Nesta segunda-feira, Andiara divide o palco com executivos de comunicação e pensadores de mídia, como o diretor para parcerias globais no segmento de notícias do Facebook (EUA), Andy Mitchell, o editor-chefe para digital do The Washington Post (EUA), Emilio Garcia-Ruiz, e o professor e diretor do Tow-Knight Center for Entrepreneurial Journalism (EUA), Jeff Jarvis. Em pauta, novas estratégias para distribuição de conteúdo e a disputa pela audiência nos ambientes digitais.
ENTREVISTA
MARCELO RECH
Vice-presidente Editorial do Grupo RBS e presidente do Fórum Mundial de Editores
"Há um retrocesso generalizado na liberdade de imprensa"
Há países onde jornalistas correm sério risco ao exercerem a profissão, a ponto de não conseguirem entrar. Como essa ameaça ao trabalho da imprensa compromete o direito da sociedade à informação?
Manter jornalistas afastados é manter os olhos da sociedade longe de atrocidades e injustiças. Diferentemente do passado, quando jornalistas tinham certa imunidade em zonas de conflito, eles se transformaram em alvos de regimes opressores e facções em combate ou grupos criminosos. Na América Latina, México e Brasil ocupam o triste topo do ranking de assassinatos de jornalistas, que já não entram livremente em algumas regiões tomadas pelo narcotráfico. O resultado é um manto de silêncio e obscurantismo.
O cerceamento da liberdade de imprensa é visto em regimes na América Latina que flertam com o autoritarismo. No Brasil, alguns jornais enfrentam avalanche de processos judiciais por parte de segmentos que se sentem atingidos em seus interesses. Há um recuo na liberdade de imprensa?
Infelizmente, há um retrocesso generalizado na liberdade de imprensa. O caso recente do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, acossado por ações de juízes que tiveram seus altos vencimentos divulgados, é um exemplo brasileiro. Mesmo em países democráticos, cresce a intolerância com opiniões ou notícias que contrariem interesses. Em outros países, legislações restritivas buscam sufocar o jornalismo independente, como no Equador, na Venezuela, na Turquia, na Rússia e até na Polônia.
Em tempos de redes sociais, qual o papel do jornalista?
Os jornalistas e veículos profissionais serão cada vez mais aqueles que usarão sua técnica e independência para contestar ou confirmar o que se espalha pelas redes, hoje um enorme depositário de notícias falsas ou distorcidas por grupos ativistas. Na semana do impeachment, um levantamento da USP mostrou que três das cinco notícias mais compartilhadas no Facebook eram mentira. Por isso, nossa função inclui certificar profissionalmente a informação ou desinformação que já circula por aí.
Por que pagar pelo conteúdo jornalístico nas plataformas digitais?
Informação de qualidade, apurada por jornalistas profissionais independentes, checada e muitas vezes exclusiva, tem um custo alto para ser produzida. Uma comparação: há muitos charlatões disponíveis por aí, mas quando alguém se preocupa com um diagnóstico sério e tratamento eficaz procura um bom médico. O mesmo ocorre com a informação. Se ela não tiver certificado de origem, pode causar muitos danos.