
A União Europeia (UE) defendeu nesta sexta-feira a união, após a decisão dos britânicos de sair do bloco, mas pediu a Londres para que inicie "o quanto antes" o processo de ruptura, "sem pensar em quanto doloroso possa ser".
Aprender com as lições e olhar em frente é o lema adotado pelos líderes europeus após o anúncio do resultado do referendo no Reino Unido, que, no entanto, foi considerado como uma "bofetada" ao projeto de integração, "um golpe contra a Europa", que agora deverá "se concentrar no essencial".
- É um momento histórico, mas com certeza não é um momento para reações histéricas - destacou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em uma declaração em nome dos outros 27 Estados membros.
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A UE está "determinada a manter sua unidade com 27 membros e não existirá um vazio jurídico até que o Reino Unido abandone formalmente a UE", completou. A votação dos britânicos "é um golpe contra a Europa e o processo de unificação", declarou, por sua vez, a chanceler alemã Angela Merkel, que pediu para se evitar conclusões "rápidas e simplistas".
Após a "bofetada", a UE vai buscar se manter unida e preparar os próximos passos. O presidente francês, François Hollande, pediu para que os Estados membros se "concentrem no essencial". Na segunda-feira, ele viajará a Berlim para uma reunião com Merkel, com o primeir-ministro italiano Matteo Renzi e Tusk.
"O quanto antes"
Este não é o fim da União Europeia, afirmou em coletiva de imprensa, visivelmente afetado, o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, europeísta convicto e veterano de Luxemburgo que resgatou a zona do euro em plena crise financeira.
Juncker leu uma declaração conjunta assinada por Tusk, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e o primeiro-ministro holandês Mark Rutte, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE. No texto, instaram o governo britânico a tornar "o quanto antes efetiva a decisão dos britânicos (...) sem se importar o quão doloroso esse processo possa ser".
"Estamos prontos para iniciar as negociações rapidamente com o Reino Unido", escreveram Juncker, Tusk, Schulz e Rutte.
Os tratados europeus estabelecem que o processo de saída pode começar assim que o Estado-membro anuncie aos outros países da UE o seu desejo. David Cameron anunciou que vai deixar o cargo em outubro, afirmando que o país precisa de um novo líder para conduzir as negociações de ruptura.
O líder dos conservadores no Parlamento Europeu, Manfred Weber, insistiu nesta sexta-feira para "começar imediatamente" com as negociações. Em Bruxelas, a questão será discutida na próxima semana, nos dias 28 e 29, em uma cúpula. Antes, no sábado, os ministros das Relações Exteriores dos países fundadores da União, Alemanha, França, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda, vão se reunir em Berlim.
"Reação em cadeia"
Bruxelas já iniciou o trabalho para tentar controlar a crise que não tem precedentes. Martin Schulz afirmou que se reunirá com a chanceler alemã Angela Merkel para evitar um efeito dominó.
- A reação em cadeia, que os eurocéticos celebram agora um pouco em todas as partes, não vai acontecer - disse.
Representantes da extrema-direita celebraram o resultado no Reino Unido e pediram referendos similares em outros países. A líder da Frente Nacional francesa, Marine Le Pen, e o líder da ultradireita holandesa, Geert Wilders, foram os primeiros a defender a ideia de consultas em seus países.
A França, que integra com a Alemanha o binômio que durante muito tempo foi o motor do bloco, pediu uma reação rápida.
- A Europa continua, mas deve reagir e recuperar a confiança das pessoas. É urgente - disse no Twitter o ministro das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault.
Para a Espanha, a prioridade agora é "aproximar a ação da UE das necessidades dos cidadãos".
- Apesar dos sérios contratempos como o que enfrentamos hoje, que ninguém duvide que vamos continuar trabalhando na construção do amanhã - afirmou o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, a dois dias das eleições gerais na Espanha.
O checo Bohuslav Sobotka considerou, por sua vez, que a União não está ameaçada. Mas deve "mudar rapidamente" ser "mais flexível, menos burocrática", porque o "projeto europeu precisa de muito mais apoio dos cidadãos".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou que espera que a UE "continue a ser uma forte parceira das Nações Unidas" e que o Reino Unido, que é um membro permanente do Conselho de Segurança, mantenha a sua liderança. Para a Otan, "o Reino Unido continuará a ser um aliado forte e comprometido".
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