
Horas antes de se retirar do cargo de primeiro-ministro britânico, David Cameron aconselhou Theresa May, que irá sucedê-lo, a permanecer "tão perto quanto possível" da União Europeia (UE), apesar do Brexit que ela deverá conduzir. Nesta quarta-feira ocorreu a oficialização da renúncia dele ao cargo e também a posse da nova chefe de governo do Reino Unido. Até então ministra do Interior do atual governo conservador, Theresa assume o posto menos de três semanas após a votação dos britânicos pela saída da UE.
A rainha Elizabeth II aceitou formalmente a demissão de Cameron durante uma audiência privada do Palácio de Buckingham e em seguida recebeu sua sucessora para confiar a ela a responsabilidade de formar um novo governo que terá a difícil tarefa de implementar o Brexit.
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Conheça Theresa May, a nova primeira-ministra britânica
Em sua última sessão de perguntas e respostas no parlamento como primeiro-ministro, David Cameron, dez anos mais jovem, convidou Theresa a não virar completamente as costas para os outros 27 membros da União.
- Nós temos que tentar ser os mais próximos da UE quanto possível - disse ele, dirigindo-se a May que ele descreveu como "brilhante negociadora".
Theresa vai receber a tarefa de formar o novo governo que a imprensa britânica já vê muito mais feminino do que o anterior, e junto com um ministro especificamente responsável pelo Brexit. Ela vai se tornar a segunda mulher a tomar as rédeas de um executivo britânico após Margaret Thatcher (1979-1990), a quem alguns a comparam.
Conhecida por sua determinação, sua força de trabalho, mas também por uma certa frieza, Theresa May, filha de um pastor, herda um Reino Unido que o referendo deixou de cabeça para baixo, entre turbulências econômicas e pressão dos líderes da UE para que o Reino Unido inicie o mais rapidamente possível o processo de divórcio.
Em seu primeiro discurso após assumir a chefia de governo, ela prometeu forjar "um papel audacioso" para o seu país fora da UE após o referendo do Brexit.
- Agora que vamos deixar a União Europeia, vamos construir um novo papel audacioso e positivo no mundo - declarou.
May também prometeu proteger a "união" do Reino Unido e trabalhar para um país que trabalhará "para todo o mundo".
A vida nova de Cameron
- Brexit significa Brexit e vamos ter sucesso - garantiu May na segunda-feira, deixando pouca esperança para aqueles que sonham ver seu país permanecer na zona de influência europeia.
Esta eurocética, que defendeu a permanência na UE durante a campanha do referendo, já havia avisado que não tinha a intenção de ativar o artigo 50 do Tratado de Lisboa - que lança o processo de saída da UE - antes do final do ano.
Ansiosos de ver o executivo britânico esclarecer as suas intenções, os líderes europeus não esperaram a posse para apresentar as suas queixas.
- Agora cada um deverá se colocar em uma posição que será a de defender os interesses, a Grã-Bretanha de um lado e, do outro, os interesses da Europa - considerou nesta quarta-feira o porta-voz do governo francês, Stéphane Le Foll.
Uma cúpula sobre as consequências do Brexit com o presidente francês François Hollande, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi será realizada no final de agosto na Itália. Ecoando as declarações de Cameron, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse que era a favor "de relações tão estreitas quanto possíveis com o Reino Unido".
Os primeiros dias da nova primeira-ministra também vão ser acompanhados de perto pelos mercados, que buscam certezas após o choque provocado pelo referendo.
- A libra recuperou mais de 4% em relação a seu mais baixo nível em 31 anos - atingido semana passada, "enquanto os mercados comemoravam o fato de Theresa May se tornar a nova primeira-ministra", comentou Hussein Sayed, analista da FXTM.
Para David Cameron, que defendeu a permanência do país na UE, é uma nova vida que começa, com o peso nos ombros de um referendo que ele mesmo lançou, mas cujo resultado foi o inverso do que desejava. O líder conservador venceu duas eleições legislativas (2010 e 2015), sobreviveu ao referendo de independência da Escócia, mas permanecerá na história como o primeiro-ministro do Brexit.
- No momento em que eu partir, espero que todo mundo veja uma nação mais forte - declarou ao Daily Telegraph desta quarta-feira.
Veneno nas veias
Enquanto o país acolhe um novo líder, a oposição trabalhista permanece abalada por uma crise de liderança profunda, outra repercussão do referendo. Afetado por uma verdadeira guerra entre os seus parlamentares, o líder do partido Jeremy Corbyn marcou uma importante vitória na noite de terça-feira contra os seus opositores após a decisão do comitê executivo do partido de permitir que ele se apresente nas novas eleições para a liderança do Partido Trabalhista.
- Mas isso não resolverá os problemas do Labour - ressaltou o tabloide Daily Mirror. - O veneno nas veias do Labour é tão tóxico que ninguém consegue enxergar um resultado harmonioso.
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