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Embora historicamente os democratas sejam considerados mais protecionistas do que os republicanos, a postura pessoal de Donald Trump na campanha, recheada de manifestações nacionalistas, traz dúvidas sobre como sua eventual chegada à Casa Branca se refletiria nas relações comerciais com o Brasil. A China é há mais de uma década o principal destino das exportações brasileiras, mas o mercado americano tem a importância de ser o maior cliente de manufaturados que o país tem no mundo, destoando da pauta predominante de produtos básicos, como soja e minério de ferro.
O embaixador Marcos de Azambuja, do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, vê em Trump causas para mais inquietação:
– Com a Hillary seria mais previsível. Ela tem ideias dentro da tradição democrática americana. O risco de desvios seria menor. O Trump é uma grande novidade, não sabemos o que pode representar.
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Para o professor Antonio Carlos Porto Gonçalves, da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas, apesar de o senso comum identificar republicanos como mais liberais, rótulos hoje podem não ser tão válidos. Ainda assim, o comportamento de Trump intriga:
– Parece ser mais isolacionista. Quer que os americanos se deem bem e o resto do mundo que se lasque. De qualquer forma, o melhor para o Brasil é que a economia americana decole.
Espectador privilegiado por estar em Nova York, Marcos Troyjo, diretor do BricLab, da Universidade Columbia, considera que as relações Brasil-EUA estão muito abaixo do potencial. Lembra que, nos últimos anos, o governo brasileiro privilegiou aproximação por afinidade ideológica, deixando os EUA de lado.
– Agora, com um governo no Brasil mais predisposto a incrementar relações com os EUA, o risco está no momento americano. A campanha presidencial deste ano, seja no campo republicano ou democrata, está repleta de retórica protecionista. Isso não é bom para o Brasil, que precisa utilizar as exportações como trampolim para a retomada do crescimento - observa Troyjo, que mesmo assim vê riscos maiores com uma eventual vitória de Trump, com possibilidade até de uma guerra comercial.
Brasil e EUA, as duas maiores economias do continente, têm dificuldades de avançar em questões simples como acordo para evitar bitributação de empresas que operam nos dois países. Outro ponto travado é a reciprocidade da exigência de vistos de entrada.
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