A Turquia afirmou nesta terça-feira, através de seu ministro da Justiça, que os Estados Unidos não devem sacrificar as relações bilaterais pelo "terrorista" Fethullah Gülen, que segundo Ancara instigou o golpe de Estado frustrado de 15 de julho.
"Se Gülen não for extraditado, os Estados Unidos sacrificarão as relações (bilaterais) por culpa deste terrorista", declarou o ministro Bekir Bozdag à agência de notícias pró-governamental Anatolia.
Ele acrescentou que a aversão dos turcos pelos Estados Unidos chegou a um ponto crítico após esta divergência entre os dois aliados da Otan.
"A parte americana é a que deve impedir que este sentimento se transforme em ódio", disse o ministro.
O golpe frustrado envenenou as relações turco-americanas. Ancara acusa o pregador Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos desde 1999, de ser o instigador. O imã nega as alegações.
Há alguns dias, um ministro turco chegou a afirmar que os "Estados Unidos estão por trás da tentativa de golpe" e um ex-chefe do Estado-Maior acusou a CIA de estar envolvida no caso.
O presidente Recep Tayyip Erdogan acusa Washington de "alimentar" e "proteger" Gülen, e garante que uma rejeição ao pedido de extradição teria consequências nas relações bilaterais.
O ministro da Justiça turco afirmou, no entanto, que "as autoridades americanas examinam seriamente nosso pedido de extradição".
Também disse que "Gülen perdeu seu status de marionete, já não é utilizável pelos Estados Unidos nem por nenhum outro país".
"Se Gülen não for extraditado isso terá um impacto negativo sobre as relações" entre os dois países, salientou.
De acordo com Ancara, o opositor turco exilado na Pensilvânia (nordeste) é o cérebro do recente golpe fracassado, que deixou 273 mortos e 2.000 feridos. O ex-imã nega qualquer envolvimento.
Após a tentativa fracassada de golpe, Ancara lançou uma campanha de detenções e expurgos em massa para excluir os seguidores de Gülen do serviço público e das forças militares.
"Até o momento, aproximadamente 16.000 pessoas foram indiciadas e detidas. Cerca de (outros) 6.000 suspeitos permanecem sob custódia", disse Bozdag.
O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, anunciou, por sua vez, durante seu discurso semanal ao Parlamento diante dos membros do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP islâmico-conservador) que "10.000 policiais serão contratados" após o golpe.
"Convoco os nossos jovens que amam seu país a entrar nesta profissão honrosa", apelou.
O golpe foi derrotado pelos turcos que tomaram as ruas e as forças policiais.
O ministério da Educação irá, por sua vez, realocar 15.000 professores, em uma área onde o expurgo provocou uma verdadeira sangria.
* AFP