O jovem Vinicius Zabot dos Santos, 21 anos, foi preso e indiciado por tentativa de homicídio após chutar a cabeça do soldado da Brigada Militar Cristian Luiz Preto, 32 anos, durante protesto em Caxias do Sul na noite da última quarta-feira. O ato, contra o impeachment de Dilma Rousseff, ocorria na esquina das ruas Sinimbu e Dr. Montaury, centro da cidade. O pai do rapaz – identificado como Mauro Rogério Silva dos Santos, 51 anos, advogado – também foi recolhido por supostamente dar uma cabeçada e quebrar três dentes do sargento Paulo Roberto da Silva Wentz, 45 anos.
De acordo com a Polícia Civil, um grupo de manifestantes foi abordado por volta das 23h. Dois deles, que pichavam edifícios com frases contra o presidente Michel Temer, acabaram detidos. Houve confusão e briga generalizada. No confronto, também ficou ferido o capitão da BM Hamilton Turra, 34 anos, que teve escoriações e luxação na mão. Os PMs serão investigados por um Inquérito Policial Militar (IPM), que vai apurar possível abuso de autoridade.
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– O PM (Luiz Preto) chegou a ficar desacordado, com convulsão. Tive a oportunidade de visualizar imagens da briga e me convenci de que realmente o indiciamento foi correto. Ele caiu no chão e esse rapaz veio da lateral, desferindo um chute com toda a violência que se pode ter. O policial estava impossibilitado de se defender – relata o delegado Ives Trindade.
O tenente-coronel Ronaldo Buss, comandante da corporação em Caxias, afirma que os subordinados foram obrigados a agir de forma enérgica porque foram desacatados:
– O indivíduo, se intitulando advogado, interferiu na ação policial, desacatando e induzindo o grupo a agir contra os PMs. Além disso, no momento em que estava sendo contido e imobilizado, deu uma cabeçada no sargento. De qualquer forma, vamos instituir o IPM como é de praxe nessas circunstâncias.
Vídeo mostra PMs desferindo golpes
Em um vídeo publicado na página do Mídia Ninja (neste link) no Facebook, os policiais aparecem agredindo Mauro Rogério Silva dos Santos. Nas imagens, o advogado está parado na calçada, em frente a um estabelecimento comercial, quando é segurado por dois PMs e atingido nas pernas, no abdome e no ombro.
Ele reage e é imobilizado, no chão. Em seguida, Vinicius Zabot dos Santos chuta a cabeça de Cristian Luiz Preto, que tentava conter o advogado. O soldado fez exame de tomografia, já que perdeu a consciência após ser golpeado, mas não corre risco de vida. Zabot foi encaminhado ao presídio, em Caxias. O pai dele foi autuado por agressão, e outras duas pessoas, flagradas pichando prédios, responderão por atos de vandalismo.
O Pioneiro entrou em contato com o advogado para uma entrevista, mas ainda não obteve retorno. Em sua página no Facebook, Santos publicou o seguinte relato:
Tenho vários machucados mas estou bem. Tenho hábito de buscar meu filho à noite na faculdade. Em torno de 22 h recebi uma msg dele pedindo para que eu o buscasse na praça central de Caxias do Sul onde estava acontecendo uma manifestação pelo fora Temer. Me dirigi para lá e já não haviam muitas pessoas. Não o vi. Recebi um pedido de ajuda dele dizendo que estavam precisando de um advogado pois haviam jovens sendo presos a uma quadra da praça, quando se dispersavam. Cheguei e vi uma moça e um jovem, certamente menor, de mãos na parede e os policiais se preparando para conduzi-los à delegacia. Retirei minha carteira e apresentei aos policiais para saber da razão da condução dos jovens e qual o nome deles. De imediato fui repelido com empurrões e não tive a condição de advogado reconhecida, talvez por eu ser negro. A polícia tem dificuldade em entender que estas duas condições podem andar juntas. As agressões foram muitas. Meu filho está preso na penitenciária de Caxias do Sul. Dizem que ele chutou um policial e com isto atentado contra a vida dele. Meu filho é estudante de Direito, por longo tempo atleta de canoagem, tendo representado o Brasil em diversas competições nacionais e internacionais. O presídio não é o lugar dele. Vou trabalhar para tirá-lo de lá.