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Tensão em Brasília

Articulador truculento e influente: quem é Geddel Vieira Lima

Amigo pessoal de Michel  Temer, ex-ministro caiu ao atrair a crise para dentro do gabinete presidencial

Fábio Schaffner

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Geddel pediu demissão uma semana após Marcelo Calero denunciar pressão para liberar empreendimento de luxo em Salvador

Ao cunhar a frase símbolo da denúncia envolvendo a construção de um espigão de luxo em pleno centro histórico de Salvador, Geddel Vieira Lima resumiu o modus operandi de um dos mais influentes e truculentos políticos em atividade em Brasília.

Célebre por atropelar adversários com a mesma intensidade com que cumplicia aliados, o ministro da Secretaria de Governo reagiu com indignação ao ser avisado pelo então ministro da Cultura Marcelo Calero de que o imponente La Vue Ladeira da Barra não poderia ter mais do que 13 pavimentos: "e eu, que comprei em andar alto, como fico?". Ficou desempregado.

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Nesta sexta-feira, Geddel entregou sua carta de demissão ao presidente Michel Temer. Sua permanência no cargo se tornou insustentável ao atrair a crise política para o principal gabinete do Planalto.

Em depoimento à Polícia Federal prestado no sábado, 19 de novembro, um dia após deixar o cargo, Calero disse ter sido pressionado por Geddel a reverter uma decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O ex-ministro relatou ainda ter sido assediado com o mesmo objetivo por Temer e pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

O suposto envolvimento do presidente numa operação para alterar uma decisão técnica em benefício do interesse pessoal de um ministro deu contornos de escândalo ao episódio.

Temer, que no início da semana havia exigido um "pedido de desculpas" de Geddel para mantê-lo no governo, acabou declinando ante a repercussão do caso. Ao aceitar a demissão, perde o principal interlocutor do Planalto com o Congresso.

A perícia de Geddel para a articulação política restou mais uma vez demonstrada na terça-feira, quando 27 líderes da base aliada assinaram uma moção de apoio ao ministro. Essa aptidão foi aprimorada nos 20 anos em que exerceu mandato de deputado federal, sempre transitando entre as bancadas governista e de oposição ao sabor das próprias conveniências.

Nos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula (2003-2010) – neste último chegou a ser ministro –, comandou ora rebeliões chantagistas, ora patrolas parlamentares para aprovar projetos de interesse do Planalto.

Primogênito do ex-deputado Afrísio Vieira Lima, Geddel chegou à Câmara em 1991, sucedendo os três mandatos do pai. Já no primeiro mandato, exibiu invejável desenvoltura ao se tornar vice-líder do PMDB e conquistar assento na cobiçada Comissão de Orçamento.

Não tardou a ser envolvido no escândalo dos Anões do Orçamento, acusação da qual se livrou agindo com a veemência que faria fama no Congresso, mas também ao chorar compulsivamente durante depoimento à CPI da época.

Há 57 anos, Geddel nasceu em Salvador mas cresceu em Brasília. No Colégio Marista, um dos mais tradicionais da Capital Federal, foi colega de aula do músico Renato Russo, que o classificava como "insuportável". Baixinho e atarracado, formado em Administração de Empresas na Universidade de Brasília, aos 21 anos conseguiu um emprego como assessor na Câmara dos Deputados.

Jamais trabalhou na iniciativa privada, o que lhe valeu o apelido de "percevejo de gabinete", pespegado pelo então adversário Antonio Carlos Magalhães por conta do apego a cargos públicos.

A amizade com Temer começou em 1995, quando coordenou a exitosa campanha do agora presidente ao comando da Câmara. Nos anos seguintes, sedimentaria essa vinculação atuando em prol do grupo que liderava as ações do PMDB.

A eficácia lhe granjeou a confiança dos caciques do partido. Foi para o baiano que Eduardo Cunha pediu ajuda ao receber a Polícia Federal na porta de casa, mês passado.

– Geddel, eu vou ser preso! Vocês precisam fazer alguma coisa – disse Cunha, ao telefone.

Ambos citados na Lava-Jato, Geddel e Cunha dividiam cargos estratégicos na Caixa Econômica Federal. Numa troca de mensagens interceptada pela PF, o doleiro Lúcio Funaro reclamava para Fábio Cleto, diretor do banco indicado por Cunha, que Geddel era "boca de jacaré" para receber propina. A despeito do poder acumulado, Geddel está sem mandato desde 2010. Nesse período, perdeu uma eleição para o governo da Bahia e outra para o Senado.

Os infortúnios, contudo, não lhe tolheram o prestígio. Na última quarta-feira, mesmo em meio à crescente polêmica do La Vue Ladeira da Barra, recebeu aval do governo para ampliar em R$ 440 mil a verba destinada às emendas parlamentares.

O afago elevou para R$ 13,6 milhões o valor disponível a cada congressista, aos quais Geddel tratou de avisar pessoalmente por e-mail, colocando-se à disposição para "quaisquer esclarecimentos que se façam necessários".

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