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Futuro do Badesul terá venda de operações e cortes na folha de pagamento

Agência gaúcha de fomento, que esteve ameaçada pelo fechamento de portas, aprovou junto ao banco Central um plano de recuperação que prevê a execução de medidas até 2018

Carlos Rollsing

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Depois de episódios recentes que mancharam sua imagem no mercado e quase determinaram o seu fechamento, o Badesul iniciou a execução de um plano de recuperação com ações que deverão ser colocadas em prática até o final de 2018. As medidas têm o objetivo de equilibrar as finanças do banco de fomento do governo estadual, com redução de despesas, busca por novas receitas e adoção de maior rigor nas análises de crédito, uma tentativa de evitar os calotes sofridos pela instituição entre 2012 e 2014.

O plano de recuperação do Badesul foi aprovado pelo Banco Central no dia 18 de dezembro. Dos três pilares que o sustentam, um dos mais importantes é o da "readequação da carteira de ativos". A agência gaúcha colocará à venda no mercado as suas operações em prejuízo. Isso significa que o banco reunirá em um pacote os contratos das empresas que tomaram empréstimos e não pagaram, entrando em inadimplência. O Badesul é credor e tem dinheiro a receber, mas não sabe quando isso irá acontecer, já que muitos dos seus devedores estão em processo de recuperação judicial _ casos da Wind Power Energy e da Iesa Óleo e Gás, que tomaram R$ 50 milhões e R$ 40 milhões, respectivamente, e não quitaram a dívida, conforme revelou série de reportagens de Zero Hora.

Para antecipar essas receitas e se viabilizar, o Badesul colocará os créditos à venda no mercado com deságio, em leilões. Os valores das negociações serão precificados por uma empresa especializada, explica a presidente do banco, Susana Kakuta. Para o investidor que comprar os papeis, a vantagem é a chance de, no futuro, receber as cifras integrais das devedoras, o que garantiria o lucro.

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Outro item da reestruturação é o "ajuste institucional", que prevê reduzir em 30% o tamanho da folha de pagamento do Badesul. Para alcançar o objetivo, será mantido o Plano de Demissão Incentivada aberto em outubro passado. Também está programada a redução do número dos cargos de chefia da instituição em 25%. A presidência do banco está sugerindo ao governo estadual _ controlador majoritário _ o corte de diretorias, passando das seis atuais para três. Essa medida depende de aprovação na próxima assembleia de acionistas, em março de 2017.

A proposta de enxugar diretorias não deixa de ser parte de uma adequação do banco à lei das estatais, que traz restrições para os ocupantes de cargos de direção em bancos públicos, sobretudo para políticos. Três dos seis atuais dirigentes do Badesul, Mano Changes, Paulo Odone e Kalil Sehbe, todos candidatos em eleições recentes, devem enfrentar dificuldades para se manter nos postos devido à nova legislação. O mandato da atual diretoria vence em 30 de abril e, para a próxima gestão, será necessário obedecer aos ditames da nova norma. Ainda no item do "ajuste institucional", o Badesul adotará metodologia mais rigorosa de atribuição de nota e avaliação de risco dos clientes que pedem empréstimo, próxima da praticada pelo BNDES.

_ Vamos ter análise muito mais robusta. Teremos, por exemplo, a análise de risco setorial, que não tínhamos _ explica Susana.

Com o novo modelo, não será verificada somente a saúde financeira da empresa, mas também do nicho empresarial em que ela se insere. A ideia é antecipar riscos de quebras e evitar calotes. Análises de crédito frágeis, com desrespeito a normas do Banco Central, causaram prejuízos milionários em contratos assinados pela gestão que esteve à frente do banco entre 2011 e 2014. Devido aos problemas de gestão, o BNDES chegou a rebaixar a zero a nota do Badesul em setembro de 2016. Isso inviabilizava a agência gaúcha, que ficaria sem fontes de recursos, mas o banco federal reconsiderou a posição semanas depois, após a promessa de reestruturação financeira.

O último item do plano de recuperação é a geração de novas receitas. Um dos caminhos seria a prestação de consultorias financeiras para municípios gaúchos, que estão entre os tomadores de empréstimo mais assíduos.

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