
Ainda sem contar com os votos necessários à aprovação de iniciativas polêmicas, como a autorização para vender estatais sem realizar plebiscito, o Piratini pretende esvaziar a sessão desta terça-feira da Assembleia Legislativa. A estratégia será discutida em um café da manhã, às 8h, entre o chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi, e os líderes da base de sustentação do governo.
No total, há 40 matérias na ordem do dia, mas, dos 11 projetos remanescentes do pacote do governador José Ivo Sartori, apenas quatro trancam a pauta de votação. Como não há interesse do Piratini em apreciá-los agora, é provável que os partidos da base retirem o quórum, abreviando a sessão. Os outros sete projetos dependem do interesse do próprio governo e, depois, de acordo de líderes para ir a plenário.
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O objetivo de Sartori é aguardar o envio ao Congresso, pelo governo federal, do projeto de lei complementar que estabelece as bases para a recuperação fiscal do Estado. A expectativa do Piratini é de que isso aconteça entre o final de fevereiro e o início de março, contudo até agora o Planalto não fez nenhuma sinalização de quando pretende remeter a proposta.
- Com o pacote sendo retomado na mesma época da votação do plano de recuperação em Brasília, aumenta o nosso poder de persuasão sobre a base - comenta um interlocutor do governo.
O adiamento da retomada do pacote também dá ao Piratini mais tempo para tentar conquistar votos entre os dissidentes do PTB e PDT. Juntos, os dois partidos têm 12 deputados, número suficiente para desequilibrar a relação de forças entre governo e oposição. No PDT, há dois parlamentares que votam sistematicamente contra o governo (Enio Bacci e Juliana Brizola) e dois que votam a favor (Gilmar Sossella e Vinícius Ribeiro). Os demais mantêm relação ambígua com o Piratini, a exemplo dos cinco petebistas, que ora votam a favor, ora contra.
Como em tese o governo dispõe de 31 votos, dois a menos do que o exigido para aprovar mudanças na Constituição, o assédio às duas bancadas deve aumentar nas próximas semanas. No PTB, deputados reclamam que a pressão para que o partido ingresse no governo já parte até de integrantes do segundo escalão. O argumento mais repetido é a necessidade de o governo privatizar empresas para dar as contrapartidas cobradas pelo Planalto no plano de recuperação fiscal do Estado. O PTB, contudo, considera desastroso o alívio no pagamento da dívida com a União.
- Desde quando crédito para negativado é um bom negócio? São três anos de carência e mais 20 anos para pagar. É só empurrar o problema com a barriga. A dívida que seria quitada em 2027 ficaria para 2047 - critica o deputado Luis Augusto Lara (PTB).
Outro problema para o governo é a insatisfação do aliado PSB. Com três votos, os socialistas reclamam de ter perdido a Secretaria do Trabalho, feudo do partido desde o início da gestão Sartori. Os deputados têm discutido pendências pessoais com o governador e aguardam um aceno para voltar ao primeiro escalão. A mágoa, porém, não deve levar a legenda a votar contra o pacote.