
Em uma conversa com colaboradores do Grupo RBS, estudantes de Jornalismo e convidados nesta terça-feira (25/4), a colunista da Folha de S. Paulo e da rádio Band News FM Mônica Bergamo contou episódios dos bastidores de seu trabalho de reportagem e comentou a respeito do contexto político brasileiro, mesmo ressalvando que evita emitir opiniões publicamente.
Convidada do projeto Em Pauta ZH, que teve mediação da colunista de Zero Hora Rosane de Oliveira, Mônica afirmou que a cobertura jornalística da operação Lava-Lato é um "desafio muito grande" para todos os envolvidos e criticou o maniqueísmo que considera ter tomado conta da sociedade em relação ao assunto:
– As coisas não são tão simples como o bem de um lado e o mal de outro. Muitas vezes, você dá uma notícia que mostra que o bem não é absoluto, que pode ter procuradores abusando do poder, que pode ter um juiz como Sergio Moro com algumas atitudes não condizentes, na opinião de críticos, como magistrado, com a responsabilidade dele. Isso provoca uma reação muito grande (nos leitores), como se você (o jornalista) tivesse se aliado a bandidos.
João Moreira Salles destaca o jornalismo de narrativa longa e profunda
O jornalismo não pode abrir mão de seu método, diz Ricardo Gandour
Ascânio Seleme: "O jornal impresso perdeu o reinado, mas não a majestade"
Para a colunista, a cobertura da Lava-Jato é mais complexa, exaustiva e difícil do que foi a do Mensalão, entre outros motivos, por envolver mais personagens. Segundo ela, um dos desafios dos jornalistas é tentar antecipar o conteúdo das delações.
Mônica explicou que sua coluna na Folha de S. Paulo conta com outros três jornalistas e uma secretária. A cobertura política fica preferencialmente com a titular, devido a sua experiência, enquanto os demais integrantes tratam de assuntos como cidade, cultura e moda. Sobre o segredo para conseguir tantos furos jornalísticos, brincou:
– Nem eu sei (risos). Estou com 50 anos e trabalho desde os 18, sempre como repórter. É tanto lugar a que já fui, tanta gente que já conheci. É muita gente que conheço na minha vida e que vão trocando de posição, algumas vezes estão em posição de comando. Você acaba conversando muito (com as fontes).
Como outros jornalistas de grande visibilidade, Mônica admite que às vezes é acusada de parcialidade, mas avalia que esse tipo de crítica é baseada em uma visão desinformada sobre seu trabalho. Nesses casos, procura lembrar os leitores e ouvintes de notícias em que mostrou o outro lado da situação.
Provocada pelos espectadores, a jornalista não se furtou em opinar sobre assuntos polêmicos, como o projeto de lei sobre abuso de autoridade:
– É muito poder que tem um procurador, um policial e um juiz. Eles podem entrar na sua casa, abrir todas as suas gavetas, ouvir as suas conversas. A gente viu no caso daquele blogueiro: eles podem quebrar o sigilo e descobrir quem foi sua fonte. É muito poder. Podem botar um ex-presidente dentro de um camburão para depor. E podem, a lei permite a eles isso. Então, algum tipo de contenção e garantia tem que ter.
Questionada por Rosane de Oliveira se a imprensa é condescendente com o Judiciário em relação aos demais poderes, Mônica ponderou:
– Acho que o Judiciário ou mesmo o Ministério Público ainda são poderes que a gente (a imprensa) ainda não está com um foco grande neles, embora tenha tido já escândalos com juízes. Mas acho que ainda é menor a luz que se joga (sobre o Judiciário).
Ressalvando que se trata de uma opinião, e não de uma informação, a colunista acredita que o presidente Michel Temer chegará ao fim de seu mandato. Sobre as eleições de 2018, se diz impressionada com o marketing de João Doria, mas acredita que as dificuldades de se administrar a capital paulista desgastam quem está na posição de prefeito. Além disso, seu nome teria de passar pela "máquina partidária" do PSDB:
– Nesse primeiro momento, as pessoas estão com uma expectativa incrível em relação a ele. Todo mundo achando que ele vai chegar no bairro delas e vai limpar tudo e tudo vai ser resolvido. Agora, se vai ser presidente da República, não sei.
DEPOIMENTOS
"Acompanho com certa regularidade o trabalho da Mônica na Folha. O que me chama bastante a atenção é a quantidade de fontes que ela tem, a quantidade de informações que chegam a ela. É o sonho de todo jornalista."
Pedro Kobielski, 23, estudante de Jornalismo da Unisinos
"Acho que o trabalho da Mônica é bastante inovador, no qual ela colocou sua característica, usou uma técnica diferente. Não é uma leitura monótona na qual aparece apenas o pessoal do alto escalão. Ela escreve bastante sobre cultura também."
João Fernando Soares, 22 anos, estudante de Jornalismo do IPA
"O Em Pauta com a Mônica Bergamo foi uma oportunidade para, em especial, os alunos de Jornalismo presentes terem uma ideia do dia a dia de uma das principais profissionais do país e de como se dá a relação dela com as suas fontes. Do relato da colunista, também fez parte um pouco da tumultuada realidade recente do país, contextualizando como se dá a atuação do jornalista neste contexto."
Luiz Artur Ferraretto, professor de Jornalismo da UFRGS
"O encontro com a Mônica Bergamo foi muito gratificante e ao mesmo tempo enriquecedor para troca de experiências entre colegas. Eventos como o Em Pauta ZH são fundamentais para renovar nosso olhar sobre a comunicação.”
Aline Moura, jornalista e diretora da Faro Comunicação