
A Coreia do Norte anunciou nesta terça-feira (4) ter desenvolvido um míssil balístico intercontinental (ICBM) que "vai dar fim às ameaças e à chantagem de guerra nuclear dos Estados Unidos".
O míssil Hwasong-14 alcançou uma altitude de 2.802 quilômetros e sobrevoou uma distância de 933 quilômetros, antes de alcançar um alvo no mar, afirmou o regime de Pyongyang. Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul deram números semelhantes.
Leia mais:
Coreia do Norte faz teste com míssil intercontinental
Míssil lançado pela Coreia do Norte é "de médio alcance", diz Rússia
Veja cinco perguntas sobre os mísseis lançados pelos norte-coreanos:
O míssil intercontinental é autêntico?
Ainda que as forças sul-coreanas e americanas tenham confirmado alguns detalhes sobre o lançamento desta terça, não confirmaram, contudo, que o foguete se trate de um míssil balístico intercontinental (ICBM).
Os comandantes da tropa americana no Pacífico e da Rússia falaram em "míssil de alcance intermediário". O presidente sul-coreano Moon Jae-In disse, por sua vez, que Seul estava analisando o resultado de um teste "levando em conta de que poderia se tratar de um ICBM".
David Wright, especialista da organização americana Union of Concerned Scientists, afirmou que o alcance de 6.700 quilômetros é suficiente para "atingir todo o Alasca".

Se for um míssil intercontinental, o que vai mudar?
O simples fato de a Coreia do Norte ter desenvolvido uma arma deste porte mudaria consideravelmente o contexto atual. A Coreia do Norte realizou cinco testes nucleares, dois deles em 2016. O regime norte-coreano multiplica seus esforços para produzir uma ogiva nuclear pequena o bastante para ser acoplada num míssil.
Estar em posse de um míssil intercontinental aumentaria o peso da Coreia do Norte nas suas futuras negociações internacionais para obter concessões dos Estados Unidos.
Contudo, colocar vários mísseis deste tipo para funcionar não é rápido, explicou Lee Chun-Keun, investigador do Instituto de Política Científica e Tecnológica de Seul, na Coreia do Sul.
O que a comunidade internacional pode fazer?
A Coreia do Norte já sofre várias sanções das Nações Unidas e de diversos países por seus testes com mísseis e bombas atômicas, que violam as resoluções da ONU. Consequentemente, o país já está totalmente isolado no cenário comercial e financeiro internacional, logo novas sanções provavelmente teriam pouco impacto.
– Em termos de pressão econômica, nós pressionamos, pressionamos e pressionamos, mas eles não dependem realmente de intercâmbios internacionais e não são responsáveis perante seu povo – disse o ex-presidente americano Barack Obama durante uma conferência em Seul.
Por isso, as estratégias empregadas por Washington para forçar países como o Irã a renunciar a seu programa nuclear funcionam menos com a Coreia do Norte, completou Obama.
Outra opção são as chamadas "sanções secundárias" contra as empresas que comercializam com o país e que, nesse caso, poderia afetar a China como um todo.
Qual é o papel de Trump?
O presidente americano Donald Trump não acredita que um míssil intercontinental possa chegar ao seu país.
"Esse cara não tem nada melhor para fazer da vida?", questionou ele após o lançamento.
A tensão cresceu desde que Trump chegou ao poder, poise ele não descarta o uso da força militar americana contra a Coreia do Norte, uma decisão que poderia desatar um conflito regional.
A China pode resolver a situação?
O papel da China, principal parceira econômica da Coreia do Norte, é fundamental na crise.
"A China pode fazer um gesto forte sobre a Coreia do Norte, pondo fim a esse absurdo de uma vez por todas", disse Trump no Twitter.
Os norte-coreanos dependem do seu vizinho para exportações, obtenção de divisas e intercâmbios comerciais de todo tipo.
No começo de 2016, Pequim deu fim às importações de carbono norte-coreano, uma represália inesperada. Mas o gigante asiático parece pouco propenso a impor medidas que realmente desestabilizem a Coreia.
A China teme particularmente a queda do regime, que acarretaria na chegada massiva de refugiados a seu país ou até, no pior dos casos, na entrada de tropas americanas na sua fronteira, em uma futura Coreia reunificada.