
"O Anne Frank é nossa casa, que nos dá luz e saber. Nossa escola nos ensina a verdade defender". Ainda sei o hino de cor. Não colei do Google.
Estudei oito anos em um colégio estadual. Há 35, saí. Perdi o contato com quase todo mundo.
"Então, marquem aí." É o nome do grupo do Messenger em que me adicionaram há uns 15 dias. Bombou. Pessoas foram aparecendo, abundaram os kkks, as memórias engraçadas.
"Então marquem aí" quer dizer marquem um encontro da turma. Minha reação instantânea: Nem com banda de música. Nessa não me pegam. Estamos todos mais gordos, carecas, chatos, irreconhecíveis.
Me imaginei ouvindo de um ex-coleguinha, hoje com cara de senhor: "Lembra daquela vez que tu quebrou meu lápis de cera? Lembra???". Ou minhas musas de infância quase senhoras.
Tô fora. Muito fora. Prefiro ficar com a imagem do viço e da inocência, das calças de tergal e das meias americanas. Assim somos em nossas memórias, assim deveremos ficar.
Só que alguém do "Marquem aí" jogou no grupo uma data. Quinta-feira, no bar do Beto. Pela manhã chovia muito. Alguém propôs cancelamento. Me deu um troço. Fui o primeiro a votar, por impulso: "Hoje!!!". Tentei apagar, mas era tarde. Recebi alguns apoios imediatos.
Durante a semana, eu havia sonhado com o Bom Fim, com o apartamento onde morei na Fernandes Vieira, perto da Escola Estadual de 1º Grau Anne Frank.
Eu tinha decidido não ir ao encontro. Mas, na última hora, abracei aquela famosa expressão que começa com "f" e termina com "-se". Fui-me pro Bar do Beto.
Cheguei cedo. Não éramos muitos. Minha primeira impressão: estamos, sim, um pouco mais velhos. Minha segunda impressão: mas bem mais divertidos.
Tomamos um porre de água mineral - os que estavam dirigindo. Falamos com carinho das professoras e dos colegas que não estavam. Ninguém me acusou de pegar o lanche do outro, ou de ser fominha naquele jogo de futebol no pátio em 1976.
Saí do Bar do Beto leve, feliz, emocionado. Talvez porque tenha passado dias me preparando para enfrentar fantasmas. E, no fim, encontrei apenas os guris e as gurias do Anne Frank.
Com uma que outra ruga, menos cabelo, algumas cicatrizes da vida. Mas iguaizinhos. Agradeço aqui, de público, a gentileza de terem me chamado pelo apelido daquela época.
E mantenho a minha sugestão, dada ali na mesa do bar, de institucionalizar esses encontros. Uma vez por ano me parece bom.
Da próxima, eu puxo o hino.