

Vamos começar com uma adivinha: Por que o furacão Alexandra seria mais mortal do que um idêntico furacão Alexandre?
Porque, conforme pesquisas apontam, as mulheres não são respeitadas. Nem sequer tufões de 160 quilômetros por hora, se forem batizados com nomes femininos.
Pesquisadores descobriram que furacões com nome de mulher matam quase o dobro de pessoas do que furacões com nome de homem porque muitos os subestimam. Os norte-americanos acreditam que furacões masculinos sejam violentos e mortais, mas consideram equivocadamente os furacões femininos como delicados e não tomam as precauções adequadas.
Publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences, o estudo ressaltou como um viés inconsciente modela nosso comportamento - até mesmo quando não temos ciência dele.
Pesquisadores examinaram os furacões mais prejudiciais entre 1950 e 2012, excluindo eventos atípicos como o Katrina em 2005. Eles constataram que tempestades com nome de mulher matam uma média de 45 pessoas, enquanto furacões semelhantes com nomes de homem mataram cerca da metade.
Os autores do estudo, Kiju Jung e colegas da Universidade de Illinois, campus de Urbana-Champaign, e da Universidade Estadual do Arizona, também realizaram experiências pedindo a pessoas para prever a intensidade e o nível de risco de um furacão. Ao serem questionadas sobre um furacão masculino, como Alexandre, as pessoas previram uma tempestade mais violenta do que quando confrontados com um furacão feminino, como Alexandra.
Igualmente, os participantes da pesquisa estavam mais dispostos a fugir do furacão Victor do que do furacão Victoria. Quanto mais masculino for o nome, mais respeito merece o furacão. Os pesquisadores estimaram que mudar o nome de um furacão de Carlos para Eloisa poderia triplicar o número de óbitos.
As mulheres apresentaram a mesma probabilidade de desrespeito a furacões femininos.
Muito além dos furacões
Costumamos supor que o racismo ou o sexismo se resuma a fanáticos ou misóginos descarados, mas pesquisas das últimas décadas - culminando neste estudo sobre furacões - demonstram que o maior problema é o viés inconsciente entre pessoas esclarecidas e bem-intencionadas que adotam os princípios da igualdade.
Isso afeta os candidatos em quem votamos, os empregados que contratamos, as pessoas com quem fazemos negócio. Suspeito que o viés inconsciente tenha sido muito mais do que um fator para o presidente Barack Obama do que o racismo evidente e também será um desafio para Hillary Rodham Clinton se ela concorrer novamente à presidência.
"É um engano supor que o viés de gênero tenha a ver somente ou principalmente com misóginos", disse Susan Fiske, professora de psicologia da Universidade Princeton e editora do estudo sobre o furacão. "Boa parte do viés de gênero é mais automático, ambíguo e ambivalente do que as pessoas costumam presumir".
"Predominantemente, o viés de gênero não se resume a 'eu as odeio'. Boa parte da questão tem a ver com 'eu as trato com carinho porque são legais, ainda que sejam incompetentes e precisem de proteção'".
Discrepância no tratamento a cada gênero
Pesquisadores de Yale contataram professores de ciências em grandes universidades de pesquisa e pediram que avaliassem a inscrição de um recém-formado (fictício) para uma vaga no laboratório. Os professores receberam o resumo de uma página do candidato, em algumas versões chamado John e em outras, Jennifer.
Numa escala de um a sete, sendo sete a nota máxima, os professores deram nota média de quatro para John e de 3,3 para Jennifer. Em média, os professores sugeriram um salário anual de US$ 26.508 para Jennifer e US$ 30.328 para John. E estavam mais dispostos a orientar John do que Jennifer.
As avaliações não estavam relacionadas à idade ou ao gênero dos professores.
Outros estudos chegaram a conclusões semelhantes, geralmente enviando currículos idênticos de candidatos a emprego - alguns com nome de homem e outros de mulher. As versões masculinas se saem melhor.
Por exemplo, avaliadores classificaram o CV de "Brian Miller" como mais forte do que o de uma idêntica "Karen Miller". Estudantes da escola de negócios de Stanford que leem sobre "Heidi" consideram-na mais interessada em poder e autopromoção do que quem lê sobre um idêntico "Howard".
Candidatos homens têm preferência
Embora praticamente todos os eleitores afirmem hoje em dia que votariam numa mulher qualificada para presidente (somente 30% falaram o mesmo em 1930), experimentos conduzidos por Cecilia Hyunjong Mo, da Universidade Vanderbilt, sugerem que na prática candidatos homens são favorecidos, pois são associados à liderança.
Mo constatou que as pessoas, quando convidadas a formar pares de imagens, não têm problemas de fazer isso com nomes masculinos e palavras como "presidente" ou "governador". Porém, alguns patinam para fazer isso com a mesma velocidade com nomes femininos, sendo mais propensos a votar em candidatos homens.
"Parece haver um abismo entre os ideais conscientes de igualdade e a tendência inconsciente de discriminar na urna", escreve Mo.
Eu suspeito que o viés inconsciente molde tudo, da discriminação salarial à forma relaxada com que muitas universidades cuidam dos casos de estupro. A questão também ajuda a explicar por que somente 4,8% dos CEOs da Fortune 500 e 18,5% dos congressistas norte-americanos são mulheres.
Esse viés profundo é tão evasivo quanto pernicioso, mas o primeiro passo é confrontá-lo e debatê-lo. Talvez os furacões nos ajudem a encarar nosso próprio chauvinismo.