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Estatelado em uma maca, um paciente sofre parada cardíaca e precisa ser reanimado. Em outro leito, uma criança emite os sons característicos de uma obstrução respiratória. Poderiam ser situações reais na emergência de um hospital - mas são apenas bonecos de alta tecnologia que dão toque de realidade às aulas práticas da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Famed/PUCRS).
Os pacientes são de mentirinha, mas simulam tão bem os sinais vitais e os sintomas clínicos de um humano que tornaram-se o xodó da disciplina de Habilidades Médicas, ministrada no terceiro ano de curso. Ao imitar a vida real, dão aos acadêmicos a segurança necessária para enfrentar a Medicina fora das salas de aula.
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- Nós, mais velhos, aprendemos com pacientes de verdade, na base da tentativa e erro. Os alunos de hoje vão ter a vantagem de treinar bastante para, mais tarde, prestar atendimento com a máxima precisão possível - afirma o professor do departamento de Cardiologia e chefe da UTI Coronariana do Hospital São Lucas, Mario Wiehe.
Tablet controla as enfermidades
Os manequins são conectados a uma espécie de tablet. Nele, os professores podem escolher, entre uma centena de opções disponíveis, as enfermidades das quais o boneco vai sofrer. Se o "coração" parou, por exemplo, são necessárias de 100 a 120 compressões cardíacas por minuto para ressucitá-lo, de acordo com os procedimentos médicos básicos. O aparelho mede este índice e, assim, revela o rendimento do futuro médico na atividade.
Nos corpos de plástico também estão indicados, por exemplo, os locais onde devem ser posicionadas as pás dos desfibriladores e os melhores pontos para auscultar os batimentos cardíacos. São um recurso pedagógico valioso, de acordo com o diretor da Famed, Jefferson Luis Braga da Silva:
- A técnica da repetição ilimitada é muito importante nesses casos. É como aprender a escrever: é preciso praticar incessantemente.
Confira o vídeo que mostra como funcionam os manequins
Ele lembra da frustração de, quando acadêmico de Medicina, nunca ter tido a chance de identificar diferentes tipos de sopro no coração - o que seria possível caso os bonecos, importados da Noruega, já existissem àquela época.
- A variedade de condições clínicas às quais podemos submeter os manequins é importante, pois há situações que talvez os alunos jamais vejam em uma emergência da vida real - aponta Braga.
Para o coordenador da graduação, Carlos Kupski, o avanço tecnológico proporciona que os estudantes vivenciem quadros críticos, em que a intervenção imediata modifica o desfecho de uma doença. Nos 29 simuladores - adultos, crianças e bebês que, como se fossem humanos, choram, tossem, gemem de dor e até vomitam - é possível, também, administrar medicamentos intravenosos, medir pressão arterial, aplicar eletrocardiograma e introduzir sondas nasogástricas.
- O mais interessante é que o boneco interage com o aluno, oferecendo respostas aos tratamentos. Com estas aulas práticas, a gente se sente preparado para lidar com pacientes reais no futuro - diz Michel Hoefel, aluno do 5º ano da Famed.