E se o butiá desaparecesse da beira das estradas e aqueles vidros em que ele é embebido em cachaça ficassem apenas na memória? Pois quatro das espécies da planta estão classificadas como "criticamente em perigo" na nova lista da flora gaúcha ameaçada de extinção, que foi finalizada e será regulamentada ainda neste ano.
O butiá é apenas uma das 804 espécies em risco que foram divididas em três categorias: vulnerável, em perigo e criticamente em perigo. A nova relação, coordenada pela Fundação Zoobotânica (FZB) com o apoio da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), substitui a lista anterior, de 2002. O trabalho é considerado pelos órgãos muito mais qualificado do que o de 12 anos atrás, por estar de acordo com padrões mundiais previstos pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e reunir 77 especialistas gaúchos e de outras partes do país, que analisaram 1.245 espécies de plantas.
Embora 10 anos atrasado - um decreto municipal também de 2002 previa atualização a cada dois anos -, o trabalho ajuda a qualificar a gestão ambiental do Estado, indicando as fragilidades de cada região para que possam ser planejadas políticas públicas de conservação que embasam os licenciamentos.
- O Rio Grande do Sul cresceu muito economicamente nos últimos anos, tivemos muitos empreendimentos. Tínhamos de ter revisado essa lista há mais tempo, pois todas essas espécies ameaçadas estão assim em decorrência das atividades humanas - observa o biólogo e diretor-geral da Sema, Luís Fernando Perelló.
PARTE PODE SER EXTINTA SEM SEQUER SER CONHECIDA
A lista cresceu em relação a anterior. São 458 novas espécies. Das 607 de 2002, permaneceram 346. São 262 criticamente ameaçadas, 326 em perigo e 216 vulneráveis. De acordo com Paulo Brack, biologo da UFRGS, 99% da primeira relação não tinha pesquisas aplicadas para a conservação. Ele pondera que, mesmo hoje, muitas espécies serão extintas sem nem terem sido descobertas.
- É necessário que se continue fazendo pesquisas para tentar também retirar as espécies da lista. O fato de 252 não terem entrado por falta de dados pode incentivar novos estudos - acredita Brack. Pedro de Abreu Ferreira, coordenador do Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata da PUCRS, concorda que ainda há muito da flora do Estado a ser descrito pela ciência.
- Essa mostra de que faltam informações pode motivar órgãos a incentivar trabalhos de pesquisa básica. O estímuloo a trabalhos mais avançados do uso de espécies, como medicinal e ecologia avançada, existe, mas ainda temos muito a descobrir. Tomamos paradigmas europeus e americanos, que diferentemente de nós, já têm a flora muito bem descrita - explica Ferreira.
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EM ESTADO DE ALERTA
CRITICAMENTE EM PERIGO
São as que enfrentam risco extremamente elevado de extinção na natureza
BUTIA CATARINENSIS: ocorrência limitada no norte do RS e sul de SC, perde hábitat, as dunas, para empreendimentos imobiliários
PETUNIA EXERTA: vendida em algumas floriculturas, está em perigo porque só ocorre na natureza em Caçapava do Sul
EM PERIGO
Provavelmente será extinta num futuro próximo. É o segundo estado de conservação mais grave para as espécie
DYCKIA CHORISTAMINEA: bromélia restrita aos topos de morro da Capital e Região Metropolitana. Sofre com queimadas e pecuária
PARODIA STOCKINGERI: espécie de cactus bola endêmico do RS, foi batizado em homenagem ao artista plástico Chico Stockinger
VULNERÁVEL
Risco elevado de extinção em futuro próximo, a menos que as circunstâncias que a ameaçam melhorem
PROSOPIS AFFINIS: tipo de inhanduvá ou algarrobo da região do Parque do Espinilho, na fronteira com o Uruguai e a Argentina
ARAUCARIA ANGUSTIFOLIA: um dos símbolos da paisagem do Estado, sofre com a conversão de florestas em áreas de lavouras
OCOTEA CATHARINENSIS: também chamada de canela-preta, foi muito explorada pela qualidade da madeira
EPHEDRA TWEEDIANA: arbusto endêmico do Estado, motivou ação inicial para a criação da Reserva Biológica do Lami ,em 1975