Educação

Mudanças climáticas

"Há tecnologia para redução de emissões", diz pesquisador Paulo Artaxo

Considerado uma das principais autoridades em mudanças climáticas, físico afirma que o Protocolo de Kyoto "já é letra morta"

Bruno Felin

Enviar email


Nos gráficos abaixo, as evidências demonstram a urgência por ações: 

Níveis de CO2


Em animação, veja onde a temperatura aumentou nos últimos anos:



Aumento do nível dos oceanos

O aumento do nível do mar se dá por dois fatores relacionados ao aquecimento global: a água que vem do derretimento do gelo da terra e a expansão natural da água quando esquenta. Em média, o nível do mar está subindo 3.17 milímetros por ano. No último século, foram 17 centímetros.

Em gráfico, acompanhe o aumento do nível do mar:



Desmatamento

Manter as florestas de pé é fundamental para combater o aquecimento, pois as plantas absorvem o CO2 e liberam oxigênio. O Brasil tem a segunda maior área de florestas do mundo, atrás apenas da Rússia, e já desmatou muito a Amazônia. Porém, os números vêm reduzindo, somos exemplo para outros países.

Em gráfico, veja o desmatamento da Amazônia nos últimos anos:



Massa de gelo

As camadas de gelo da Antartica reduziram cerca de 147 bilhões de toneladas por ano enquanto as da Groelândia perderam aproximadamente 258 bilhões de toneladas ao ano. No Ártico, a média de declínio da camada de gelo é de 13,3% por década (relativo às médias de 1981 a 2010).

Veja como ficaram alguns pontos do globo antes e depois dos efeitos das mudanças climáticas:

Anxo Lamela / Anxo Lamela
Camadas de gelo da Groelândia perdem aproximadamente 258 bilhões de toneladas ao ano

Paulo Artaxo é uma das principais autoridades em mudanças climáticas a representar o Brasil nas conferências da ONU. O físico da Universidade de São Paulo tem mais de 300 trabalhos publicados, parte deles nas grandes revistas científicas do mundo. É uma das pessoas a colocar o país como referência em estudos sobre o clima.

Como o mundo saiu da conferência em Lima, no Peru? Há um rascunho de acordo?
Paulo Artaxo:
Não há um rascunho. Há, no máximo, uma tentativa de se fazer um acordo para redução de emissões, mas não há nenhum compromisso concreto com uma possivel verificação (de quem cumpre ou não). Isso, infelizmente, ainda não existe. O Protocolo de Kyoto foi uma ferramenta importante, mas já é letra morta, não foi cumprido pela falta de penalidade para quem não cumpre.

Evidências comprovam a urgência da luta contra o aquecimento global
Mudanças climáticas se tornam debate urgente em 2014
As técnicas mirabolantes da geoengenharia para conter o aquecimento global

O que emperrou para que esse encontro tivesse mais resultados concretos?
Paulo Artaxo:
Obviamente, o que emperra são as velhas questões de sempre: quem paga a conta e como é que são divididas as responsabilidades do ponto de vista das reduções de emissões. Alguns países, como os Estados Unidos, não aceitam fazer nenhum tipo de redução se a China, por exemplo, que é o seu grande competidor, também não fizer uma redução. Essa é a questão.

Quanto ao proximo acordo, temos de ficar otimistas ou pessimistas?
Paulo Artaxo: Não é questão de ficar otimista, ou jogo de sim ou não. É fundamental que se façam políticas de redução de emissão de gases do efeito estufa, principalmente no setor de energia. Isso é fundamental, a estabilidade do clima no planeta no futuro depende disso. Agora, isso não é a única coisa relevante no nosso planeta, você tem questões econômicas, tecnológicas e políticas para tratar com isso. Então, não podemos simplesmente imaginar que vamos chegar em Paris, vamos sentar e redigir o novo acordo, e todo mundo vai ficar feliz. Não funciona desse jeito. É um longo processo, que esperamos que tenha sucesso, mas não se espera que saia um acordo para reduzir 80% das emissões. Talvez fique em 20% até 2050.

O que esperar da Cúpula do Clima
Relatório da Onu conclui que emissões de gases têm de zerar até 2100
"O Brasil é um dos exemplos mais importantes" 

Temos tecnologia para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. O desafio é barateá-la?
Paulo Artaxo: Na verdade não é uma questão tecnológica. Há tecnologia para redução de emissões em todos os setores. Por exemplo, o setor mais óbvio é a indústria automotiva. Existe tecnologia para reduzir as emissões dos automóveis em pelo menos 50%. A questão é ter políticas públicas que ponham essas tecnologias em uso. Tem que obrigar as fábricas a fazer carros mais eficientes no menor prazo possível. Se isso não acontece, as fábricas vão continuar colocando no mercado carros extremamente ineficientes e totalmente inapropriados para a questão climática como a gente tem hoje.

Os níveis de CO2 sempre variaram durante a história da Terra. Ao respirar, as plantas retiram o CO2 da atmosfera, ficam com o carbono e soltam oxigênio. Os animais puxam o oxigênio e soltam CO2. Um balanço perfeito. Durante centenas de milhares de anos, os seres vivos foram morrendo e esse material indo cada vez mais para o fundo da Terra. Ao ser exposto a calor e pressão, se transformou nos combustíveis fósseis: petróleo, gás e carvão. E aí mora o nosso problema: todo esse carbono que demorou centenas de milhares de anos para se formar está voltando para a atmosfera em apenas algumas centenas de anos.

Veja animação com o aumento do CO2 ao longo dos anos:  

 

Aumento da temperatura

A temperatura oscilou durante toda a história do planeta acompanhando os níveis de CO2 na atmosfera. Cientistas estimam que os gases do efeito estufa emitidos pelo homem demorem 50 anos para começar a alterar os níveis de CO2 medidos. Por isso é perceptível que, após a revolução industrial, a temperatura tenha aumentado tanto.

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Sala de Domingo

13:00 - 15:00