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Dois inéditos acordos de delação premiada em investigações contra o tráfico de drogas no Estado foram fundamentais para que a Polícia Civil evitasse a concretização do plano de ataque contra uma juíza de Gravataí, seus familiares e pelo menos dez agentes da Polícia Civil que atuaram, em 2015, na Operação Clivium. Dois integrantes do bando, que tinham acesso ao comando do grupo, firmaram os acordos com a Polícia Civil e o Ministério Público no final do ano passado. A polícia não revela as suas identidades.
– Um deles é um traficante bastante experiente, que já atuou, inclusive, com outras facções criminosas. Ele estava sob ameaça de morte. Em troca, pela delação, recebeu proteção policial – revela o delegado Marco Antônio Souza, que comandou a investigação ao lado do delegado Endrigo Marques.
Depois de confirmado o acordo, o detento, que cumpria prisão preventiva, foi transferido para outro presídio. Posteriormente, recebeu liberdade provisória e permanece sob proteção policial. O outro delator recebeu o benefício de, ao ser condenado, cumprir penas alternativas. Ambos respondem a processos por tráfico de drogas.
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Conforme a investigação, o bando liderado por Vinícius Antônio Otto, o Vini da Ladeira, planejava sequestrar uma juíza de Gravataí e cometer atentados contra familiares dela. Apoiado, em uma das galerias do Presídio Central, por Juliano Biron da Silva – indiciado pelo assassinato do fotógrafo José Gustavo Bertuol Gargioni, em 2015 –, que antes de ser preso era considerado seu fornecedor de drogas e armas, o criminoso e a cúpula da quadrilha também elaboravam um plano para eliminar os principais agentes policiais envolvidos na operação que levou 123 pessoas à prisão no ano passado.
– Eles já haviam resolvido até quem executaria os planos e que armas utilizariam. Mas até àquela altura, a maior parte dos pistoleiros do bando ainda estava presa. Ironicamente, dependiam do Judiciário para levar a cabo este plano – comenta o delegado.
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Ainda no ano passado, a polícia solicitou a transferência de Vini para um presídio federal. A medida, mesmo amparada pela ameaça concreta contra uma magistrada, foi negada pela Justiça. A Vara de Execuções Criminais (VEC), no entanto, decidiu transferi-lo para a Pasc, em Charqueadas.
– Vamos tentar novamente essa transferência. Entendemos que este é um preso perigoso, e que precisa ter a sua rede de contatos cortada – diz o diretor regional de Porto Alegre, delegado Eduardo Hartz.
A suspeita da polícia é de que os tentáculos da quadrilha, que movimentava até R$ 6 milhões por mês a partir de Gravataí, tenham chegado a agentes da segurança corruptos. Na manhã desta sexta, um mandado de busca foi cumprido na casa de um policial militar no Vale do Taquari. Ele é suspeito de acessar dados sigilosos dos alvos escolhidos pelo bando. Outros agentes sob suspeita também são investigados.