

A eficácia na elucidação dos crimes de latrocínio parece não ter intimidado criminosos na Capital, que já registra 63,1% de aumento em 2016 se comparado ao mesmo período de 2015. O último crime marcou Porto Alegre pelo local emblemático onde aconteceu, no tradicional ponto de encontro e referência em movimentação artística – o Parque da Redenção. O vendedor Luiz Fernando Schilling, 29 anos, teve a vida ceifada ao proteger a irmã durante um assalto, na noite de 13 de novembro.
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Dois criminosos armados com faca abordaram os irmãos e o casal de amigos que os acompanhavam quando retornavam de um evento no parque. Dois dias depois, a dupla foi presa em flagrante em outro assalto, no mesmo lugar. O inquérito com o indiciamento dos suspeitos chegou nesta terça-feira ao Ministério Público. Como os suspeitos foram reconhecidos por testemunhas, é possível que o caso da Redenção também seja elucidado rapidamente pela Justiça.
O delegado que investigou o caso, Abilio Olavo Andreoli Pereira, faz adendo à "sorte" neste caso. A investida dos PMs no patrulhamento do parque foi o que resultou no flagrante dos suspeitos em mais um crime.
Leia trechos da entrevista concedida pelos pais da vítima, Julionir e Jussara Schilling, a ZH:
Julionir, o senhor disse no velório do seu filho que o Parque da Redenção era emblemático. O que representa agora?
Sempre foi um lugar especial. Estive recentemente com a minha filha lá em um evento sobre "autismo". Mas depois disso, nunca mais será a mesma coisa.
Como fica a cabeça dos pais após a morte inesperada de um filho?
Jussara (mãe): O normal é os filhos enterrarem os pais. Ele estava bem, com saúde e, de repente, um infeliz faz uma coisa dessas e ele morre estupidamente. Por que (os criminosos) não levaram o que queriam? Na mochila tinha só duas garrafas de água.
Vocês se sentem desamparados pelo Estado?
Julionir: Fui educado da seguinte forma: 50% do direito é meu e 50% da outra pessoa. E cadê o direito de um pai de família de ver os filhos crescerem? Sempre tivemos muito orgulho de sermos gaúchos, acho que somos prepotentes. Agora estamos vivendo na região mais perigosa do país. Perdemos aquela questão de província, caímos na vala comum.
Jussara: Não se pode sair de casa, os bandidos tomaram conta. A não ser que ocorra algo muito rígido, está tudo muito liberal e fácil para eles.

Quais as lembranças que ficam do Luiz Fernando?
Jussara: O que a gente viu no velório foi o que ele plantou, os amigos estavam em peso. Nunca vi tanta gente, na hora até passei mal, não conhecia todo mundo. A gente viu que era um guri bom e amado. Era um guri de ouro, sempre ajudou em casa, começou a trabalhar aos 17 anos, era muito querido com os filhos dele.
Julionir: Um amigo dele me contou que o conheceu numa entrevista de emprego – os dois eram concorrentes. Como a entrevista foi prorrogada para a tarde, meu filho o convidou para fazer um lanche. Ele disse que não podia porque estava sem dinheiro. Então o Luiz Fernando se ofereceu para pagar o almoço. Os dois passaram na entrevista. "Antes de ser concorrente, ele foi um amigo", disse o amigo.
Como foi o último dia que falaram com ele?
Jussara: Toda quinta-feira ele vinha trabalhar aqui na região de Novo Hamburgo e almoçava conosco. Foi o último almoço (no dia 10). Conversávamos bastante pela internet também, pois ele morava em Canoas. No dia (da morte), ele estava bem faceiro. Falei com ele por volta de 21h, pedi para ele trazer a irmã para casa, já era tarde. Depois comecei a ligar e ele não atendia mais. A amiga atendeu, ouvi minha filha gritando. Estavam no HPS. Que situação. Ela dizia: "mãe, a culpa foi minha". Ela não tem culpa do que aconteceu. Ele foi um anjo para ela, nosso "gordinho" era demais.
O que esperam a partir de agora?
Julionir: A esperança é que a Justiça seja feita, não vai trazer ele de volta, mas a gente tem fé de que Justiça seja feita. Era um filho muito amado e que amava os outros também.
Jussara: O que me dá mais tristeza é saber que não vou ser a última mãe a perder o filho desta forma. Infelizmente, não temos lei para isso, os bandidos têm mais direitos do que a gente. Não queria ver mais mães chorando, como eu estou pelo meu "gordinho".