
O temor de novos ataques na Vila Cruzeiro fez com que o consórcio Viva Sul encerrasse mais cedo a operação de duas linhas de ônibus que atendem a região, nesta segunda-feira. As linhas 264-Prado e 263-Orfanotrófio fariam a última viagem do dia saindo do Centro às 19h, sendo que o horário normal de término seria meia-noite. Cerca de 70 policiais do Interior que fazem parte da Operação Avante estão reforçando a segurança na região.
– Acho que nesta terça ou quarta tudo voltará ao normal, pela minha experiência – afirma Giovani Silveira, supervisor do Consórcio Viva Sul.
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No fim de semana, um posto da BM que fica na região foi alvo de tiros e um ônibus foi queimado. Os ataques começaram após a morte de um suspeito por um policial militar. O 1º BPM abriu Inquérito Policial Militar para apurar a conduta dos policiais e a Polícia Civil também investiga o caso.
– Ficaremos aqui até quando for necessário – garante o sargento Fábio Ravázio, do Batalhão de Operações Especiais de Passo Fundo, que fazia o patrulhamento do local.
Moradores da região estão com medo. A maioria evitou conversar com a reportagem, menos um homem, de 58 anos, que pediu para não ser identificado.
– Desde 1980 eu moro aqui. Nunca vi a região tão violenta. Que bom que tivesse sempre essas viaturas aqui – conta o morador.
Segundo o Consórcio Viva Sul, as duas linhas que encerraram a operação mais cedo nesta segunda-feira, começam as viagem um pouco mais tarde do que o normal nesta terça. Sairão do Centro às 7h.
Barreira impede a entrada de armas na Vila Cruzeiro
Uma barreira da Brigada Militar na madrugada desta segunda-feira pode ter evitado um reforço no armamento dos criminosos que controlam o tráfico na área conhecida como Vila Cantão, na região da Vila Cruzeiro, na Zona Sul de Porto Alegre. Essa é a suspeita da polícia depois da prisão de quatro homens e apreensão de um adolescente, com duas pistolas, um revólver, mais de 150 cartuchos de munição, carregadores e toucas ninja recolhidos. Os suspeitos estavam em uma Duster clonada.
Ao depararem com a barreira justamente em frente ao posto da Rua Francisco Massena Vieira, no Bairro Santa Tereza, que foi atingido por disparos na manhã do último sábado, os suspeitos tentaram fugir, mas foram controlados. Não houve disparos. Todos os presos têm antecedentes criminais. Informalmente, eles teriam dito que o destino das armas era a Vila Cantão.
É lá que está o principal foco de tensão na região da Vila Cruzeiro desde a noite da última sexta, quando o jovem Patrick Fernandes Vieira, 19 anos, foi morto com um tiro na perna durante uma ação da Brigada Militar. A morte, acredita a polícia, gerou uma série de represálias.
A 20ª DP investiga os episódios – tiros contra um micro-ônibus da BM e um posto da corporação, além do incêndio de um ônibus na Rua Octávio de Souza, na noite de sábado. Há suspeita de envolvimento de lideranças do tráfico da Vila Cantão nos ataques, mas não houve prisões até o momento.Enquanto isso, um inquérito policial militar foi aberto no 1º BPM para apurar a conduta dos quatro policiais envolvidos na ocorrência que resultou na morte de Patrick Vieira. A 6ª DHPP investiga o homicídio e ainda não revela detalhes da apuração.
PM envolvido na morte de jovem foi condenado por agressão
Um sargento e três soldados faziam parte da guarnição envolvida na ocorrência considerada o estopim de todo o clima de tensão na Vila Cruzeiro. Eles não têm seus nomes divulgados pela polícia. Conforme apuração da reportagem, o disparo que atingiu uma das pernas de Patrick Fernandes Vieira partiu de um dos soldados. Ele recorre atualmente, na Justiça Militar, de uma sentença de três meses de prisão.
É que, em março, foi condenado por agressão a um homem ocorrida em abril de 2014 durante uma abordagem a um veículo na Zona Sul da Capital. As armas dos quatro PMs foram recolhidas para perícia. Conforme o comandante do 1º BPM, tenente-coronel Alexandre Brite, a viatura da Patrulha Tática Móvel (Patamo) havia se deslocado até uma das esquinas da Rua Octávio de Souza, na Vila Cantão, depois de uma denúncia de que homens estariam armados naquela região.
Ao chegarem no local, relata a ocorrência policial, os suspeitos teriam fugido, iniciando uma perseguição com disparos dos policiais.A versão, no entanto, é contestada pela família de Patrick.
– Ele não estava junto com os guris que entraram em confronto com a Brigada. Quando viu os policiais correndo na direção dele, parou porque não tinha nada. E aí teriam atirado nele. Foi covardia. Ele não estava armado – diz um parente de 33 anos, que prefere não ser identificado.
Conforme a BM, Patrick estava armado com um revólver calibre 38 e esboçou atirar contra os policiais. A arma foi apreendida.
– Ele não era nenhum santo, foi preso em fevereiro com uma pistola. Até um tempo atrás andava armado mesmo, mas com pistola. Nunca andou com revólver – acredita o familiar.
A família de Patrick Fernandes Vieira contesta ainda o socorro prestado ao jovem depois do disparo. O confronto teria acontecido por volta das 20h. Foi neste momento que amigos ligaram para os irmãos dando conta do que havia acontecido. O rapaz foi colocado na viatura e levado para o Pronto-Atendimento da Vila Cruzeiro, onde morreu. A sua chegada lá, no entanto, só teria acontecido por volta das 21h. A Polícia Civil investiga essa informação.