
Mesmo discreta, a pastora Marta Maria Kunzler, 63 anos, havia comentado com pessoas próximas a intenção do marido de pôr fim ao casamento, que durava quase duas décadas, mas o relacionamento acabou mantido. Hoje, o companheiro, Adair Bento da Silva, 38 anos, está entre os suspeitos da morte da idosa, ocorrida há um mês em Montenegro, no Vale do Caí.
Irmão de Marta, o advogado José Teodoro Kunzler, 57 anos, recebeu uma ligação da irmã há cerca de quatro meses com o desabafo. Colocou-se à disposição e ofereceu apoio. Depois, ela não tocou mais no assunto.
– Eles acabaram fazendo as pazes – conta José.
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Em fevereiro, Marta havia visitado o irmão, morador de Tapera, com a menina de dois anos adotada informalmente pelo casal fazia um ano. Pela ausência do marido, José suspeitou que o relacionamento não ia bem, mas nunca pensou que a irmã seria assassinada.
– Foi uma surpresa muito grande. Ninguém espera que aconteça uma violência assim na sua família. Pelo jornal, a gente até vê que acontece em todo lugar, mas, quando é do nosso lado... Ficamos apavorados – lamenta o irmão.
Marta era pastora na Igreja do Evangelho Quadrangular, no centro de Montenegro. Nos últimos meses, a também pastora Viviane da Silva, 38 anos, havia conversado com a idosa sobre o assunto:
– Acho que já estavam enfrentando algum problema no relacionamento. Sondávamos ela sobre essa história de separação, porque, na igreja, sempre falamos sobre casamento. Já tínhamos dito que, se não "der", "libera".
Viviane esteve com Marta horas antes de ela ser morta estrangulada na casa onde morava, no bairro São Paulo, no dia do seu aniversário. Foram ao culto, cantaram "parabéns a você" e oraram pela aniversariante. Marido de Viviane, o pastor Telmo da Silva, 38 anos, sublinha que a idosa estava "tranquila".
– Ela era uma bênção. Uma mulher de ouro, de fibra – lembra Telmo.
Após o culto, Marta saiu para comemorar o aniversário com outro pastor da igreja e sua mulher. Comeram batatas fritas em uma lanchonete próxima à saída da cidade.
Antes, a pastora desculpou-se com Viviane e Telmo – gostaria de convidá-los, mas não poderia pagar para todos. Ela já havia passado no estabelecimento para acertar a conta, com receio de que os convidados insistissem no pagamento. Depois da celebração, retornou para casa.
Segundo a Polícia Civil, o marido e o amante, Rodrigo Nunes da Silva, 24 anos, planejaram a morte de Marta. Teriam contratado os primos Igor de Azeredo Gomes e Juliano Jackson da Silva Gomes para assassiná-la por R$ 1 mil. O objetivo de Adair e Rodrigo seria herdar os bens da pastora e ficar com a menina, que, na realidade, é filha do próprio amante.
Os quatro foram indiciados por homicídio quadruplamente qualificado, e Adair também foi implicado por feminicídio. A polícia ainda pediu a prisão preventiva de Adair, Igor (que já está preso) e Juliano (que está foragido). O caso está sendo analisado pelo Ministério Público.