Adair Bento da Silva, 38 anos, é suspeito de matar a mulher, Marta Maria Kunzler, 63, em Montenegro, no Vale do Caí. A Polícia Civil indiciou o homem por homicídio quadruplamente qualificado. Na tarde de quarta-feira, Silva recebeu a reportagem de Zero Hora (veja trechos no vídeo acima) e falou sobre o crime, a relação com a mulher e outros assuntos.
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Abaixo, leia a íntegra da entrevista:
O senhor tem dormido bem?
Não. Só com a ajuda de remédios.
O que aconteceu na noite em que Marta foi morta?
Foi um assalto. Estava eu e a nenê em casa, e a Marta chegou do culto. Abri a porta da sala para ela entrar e fui para a cozinha terminar a janta. Fechei a porta da cozinha, com a nenê junto. Uns minutos depois, abriram a porta da cozinha, e recebi um soco no rosto. Caí um pouco para trás, me escorei na parede com a nenê no colo e fui para o quarto com a nenê. Era um acordo entre a gente, porque já fomos assaltados outras vezes, de não reagir. Deixar levar o que quisessem, mas que não nos machucassem. Fui com a nenê para o quarto e já não vi mais a Marta. Acreditava que era um assalto, e que ela estava no banheiro escondida. Algo assim. Só ouvi alguns barulhos, de alguém revirando a casa, mexendo nas coisas. Não ouvi nenhuma vez a Marta, só barulhos da casa. Não sei quanto tempo durou isso, fiquei conversando com a nenê, tentando distrair ela. Depois, ficou um silêncio, ouvi o carro sair e esperei um pouco. Pensei que a Marta viria para ver como estávamos. Mas ela não veio. Fui saindo no escuro, as luzes estavam apagadas. Quando cheguei na sala, acendi as luzes e vi a Marta no chão. Não inteira, uma parte. Já abracei a nenê, para que não visse, e saí correndo, pela porta da garagem, para pedir ajuda. Os vizinhos ouviram meus gritos de socorro, e um me ajudou, a chamar o socorro, a polícia.
A Marta foi morta por estrangulamento e levou facadas no pescoço. Em nenhum momento, o senhor ouviu gritos ou pedidos de socorro?
Não ouvi nada. Não vi mais ela e não ouvi gritos. Só o barulho das portas, abrindo e fechando.

O Rodrigo também estava na casa?
Não. Ele já tinha ido embora. Estava só eu e a nenê em casa, mais ninguém.
Ele havia passado o dia na casa?
Tinha passado dois dias lá. De vez em quando ele ia, passava um dia, dois.
A Marta foi morta no dia do aniversário. O senhor não comemorou a data com ela?
De meio-dia, fizemos a comemoração. Ela não gostava muito de comemoração. Nem queria ter ido ao culto, disse que iria por obrigação porque estavam esperando ela. A nenê estava gripada, resolvi ficar com casa com ela. Mas comemoramos o aniversário ao meio-dia.
Imagens de câmeras de vigilância de uma residência vizinha mostram dois homens chegando à casa onde vocês moravam antes de que a Marta houvesse retornado do culto e, depois do horário do crime, deixando o local.
Não sei. Não tenho conhecimento.
Próximo ao carro da Marta, foi encontrado um moletom do senhor, sujo de sangue.
Saí para caminhar antes das 19h, fui na farmácia e usei esse moletom. Quando cheguei em casa, tirei. Não lembro onde larguei, se foi na cadeira, em algum lugar assim.

O que foi roubado da casa?
Aparelhos, assim, notebooks, celulares. Não entrei mais na casa para ver.
Dois celulares e dois notebooks?
É. Foram levadas bijuterias e joias, também.
Os dois notebooks foram entregues pelos seus irmãos para a polícia, disseram que estava na casa deles.
(Silêncio)
Em nenhum momento, o senhor pensou em socorrê-la?
Para mim, era um assalto e, como tínhamos combinado, pensei em não reagir. Em nenhum momento pensei que fosse alguma coisa mais grave. A gente dizia: "quem está com a nenê, protege a nenê, e que levem o que quiserem". Achei que ela estivesse no banheiro.
Ela foi morta com uma faca da própria casa. O senhor não achou estranho que os bandidos não estivessem com uma arma?
Sinceramente, não... Sei que os policiais disseram, que normalmente levam armas, mas não sei explicar como não levaram arma ou usaram um de nossos utensílios.
Como era a relação de vocês?
Éramos um casal normal. Tínhamos discussões normais.
Ela havia relatado a algumas pessoas que o senhor queria se separar dela?
Há bastante tempo, mas a gente tinha decidido ficar junto.
Ela disse para um irmão que isso aconteceu em março.
Não tenho conhecimento.
Segundo a investigação policial, o Rodrigo disse que vocês contrataram duas pessoas, para quem pagariam R$ 1 mil para matar a Marta. Depois, ficariam juntos com o bebê. Foi inclusive o que ele relatou à polícia.
Não tenho conhecimento do depoimento dele.
Estou lhe informando, foi isso que ele disse.
(Silêncio)
Como o senhor está se sentindo?
Parece que a ficha ainda não caiu. Estou assustado com tudo que está acontecendo. Para mim, eu e a Marta nos dávamos muito bem, a gente se entendia.
O senhor gostaria de dizer algo para as pessoas que o acusam de culpado?
Não tenho participação nenhuma. Não fui eu.

E para a Marta, se ela pudesse ouvi-lo?
Tenho certeza que ela estaria do meu lado. Sei que ela está com Jesus. Minha crença acredita nisso. Sei que ela não duvidaria de mim, em nenhum momento.
Qual é a sua relação com o Rodrigo?
Quem me apresentou para ele foi um primo, porque o Rodrigo precisava de ajuda para reaver a guarda da nenê. Comecei a ajudar ele com esse intuito, nas documentações. Ele não tinha condições financeiras de ficar com ela.
Vocês tinham um relacionamento afetivo?
Sim.
Extraconjugal?
Isso.
A Marta tinha conhecimento?
Não.
O senhor foi indiciado por homicídio quadruplamente qualificado. O senhor matou a Marta?
De maneira alguma. Não tenho nenhum envolvimento.