No centro da polêmica sobre a confiabilidade das estatísticas de violência do Rio Grande do Sul, o número de vítimas de homicídios do Estado só passou a constar – em forma de nota explicativa fora da planilha oficial de indicadores criminais gaúchos – no balanço final dos crimes de 2016. Até então, o governo só publicava o número de casos, e não o de mortos. Com isso, o dado mais completo passou a aparecer abaixo das estatísticas de cada mês, mas somente como um número geral de vítimas de homicídios de todo o Estado. Se a população quiser saber, por exemplo, quantas pessoas foram assassinadas em Porto Alegre a cada ano, pelos indicadores oficiais e públicos, é impossível.
Pelo levantamento próprio de homicídios da Editoria de Segurança dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, a Capital teve 744 vítimas em 2016. Foram sete chacinas (com pelo menos três vítimas) e outros 29 duplos homicídios. Na lógica da divulgação de ocorrências de homicídios, pelo menos 43 dessas vítimas não seriam contabilizadas.
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– A divulgação de indicadores criminais é fundamental para planejar ações de segurança. Não significa que vá mudar muito, numericamente, os dados de homicídios para análise criminal o uso do número de ocorrências ou de vítimas, mas é uma questão de transparência para a sociedade sobre o que acontece exatamente na sua localidade. Em regra geral, os grandes municípios concentram a maior parte dos homicídios, mas por que não demonstrar em que região de cada um desses municípios estão morrendo mais pessoas, por exemplo? – aponta o sociólogo Túlio Kahn, integrante do Fórum de Segurança Pública e um dos maiores especialistas em análise criminal do país.
Em 2011, os jornais iniciaram levantamento próprio dos homicídios em Porto Alegre e outros 18 municípios da Região Metropolitana. Os dados são baseados nos levantamentos diários, junto à polícia, de assassinatos nas cidades, identificando as vítimas, suas características e os locais exatos das mortes.