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A situação dos presos se acumulando em delegacias e viaturas, que se tornou rotina desde o final do ano passado, poderia ser ainda pior. Isso porque, comparando o primeiro semestre de 2017 com o mesmo período dos últimos 10 anos, a Brigada Militar nunca prendeu tão pouco.
Foram 24.164 prisões em flagrante feitas pela BM em seis meses deste ano. É como se, a cada hora, cinco pessoas fossem capturadas por policiais militares no Estado. Este índice chegou, em 2010, por exemplo, a 12 pessoas por hora.
O volume de capturas deste primeiro semestre é 29,3% menor do que os 34.196 que haviam sido presos no mesmo período do ano passado. No comparativo dos primeiros seis meses de cada ano, o número de prisões feitos pela corporação tem baixado desde 2014, mas a variação entre 2016 e 2017 é a maior do período.
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O dado faz parte dos indicadores de eficiência da Segurança Pública, divulgados na última semana em cumprimento à Lei Postal. A mesma divulgação revelou, no entanto, que, apesar de prendendo menos e com efetivo deficitário, o trabalho investigativo – que demanda mandados judiciais – tem resultado em mais suspeitos presos.
Desde o início da série histórica, em 2003, o primeiro semestre de 2017 foi o que registrou o maior volume de detidos pela Polícia Civil em cumprimentos de mandados. Foram 3,3 mil presos dessa forma – 22,1% a mais do que no mesmo período de 2016. É como se as investigações policiais resultassem em 18 pessoas presas diariamente no Estado.
Para o sociólogo e especialista no tema da segurança, Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, um dado não compensa o outro.
– A perda de efetivo inegavelmente diminui a capacidade da BM atender ao seu papel fundamental, de impedir os crimes e fazer o policiamento ostensivo. Talvez a Polícia Civil, diante das dificuldades estruturais, tenha conseguido manter um planejamento melhor, mas as duas forças policiais deparam com a ausência de uma política de segurança pública, que se reflete, por exemplo, nas delegacias e viaturas lotadas de presos – aponta.
O subcomandante geral da BM, coronel Mario Ikeda, admite que a baixa nas prisões feitas pelo policiamento ostensivo não significa que a criminalidade reduziu, mas a tradução do momento histórico vivido na área da segurança no Rio Grande do Sul.
– O déficit de vagas no sistema prisional afeta diretamente o trabalho do policiamento. Temos optado por muitas ações de visibilidade, para que as pessoas percebam uma maior sensação de segurança, do que propriamente em ações de repressão. A prioridade é a prevenção dos crimes – aponta o oficial.
Ainda comparando os primeiros seis meses deste ano e de 2016, apesar da redução de latrocínios (roubos com morte), de 26,5%, os roubos tiveram uma pequena alta de 2,04% no Estado. Uma tendência, em relação aos assaltos, acredita o subcomandante, que deve se reverter no segundo semestre.
– Nos primeiros meses do ano, enfrentamos ainda uma baixa de efetivo significativa. Só a partir de março esse volume começou a se reverter. Já tivemos o ingresso de mil PMs no policiamento e, até o final do ano, outros estarão formados. Nos próximos meses, a ação dele deve começar a surtir efeito e esperamos que, no próximo ano, com o problema do sistema penitenciário menos agravado, tenhamos resultados positivos – diz Mario Ikeda.
O efetivo atual da BM é de 15,8 mil policiais – 57,3% abaixo do considerado adequado. Acrescente a isso a sequência de meses com parcelamentos de salários, que já chega a 21.
– Há um desânimo generalizado nas tropas. Hoje, o policial não consegue exercer o seu trabalho sem ter o tempo todo a pressão da sua vida particular, com as contas estourando, a cobrança da família. E o governo ainda aposta no cobertor curto, cobrindo Porto Alegre e desguarnecendo o Interior. Isso não funciona – critica o presidente da Associação de Cabos e Soldados, Leonel Lucas.
Segundo o brigadiano, a fórmula para reverter os índices do trabalho da BM deveria incluir dois itens: salários em dia e plano de carreira aos policiais militares.
Desde o começo do governo Sartori, 2017 é o primeiro ano com maior ingresso do que aposentadorias de policiais na corporação. Entrarão, até o fim do ano, 1,5 mil PMs, com as aposentadorias previstas de 1,2 mil. Ainda assim, o saldo dos três anos de Piratini é deficitário. Aposentaram-se 5,5 mil policiais militares, com as entradas de 2,05 mil.